As pesquisas realizadas na área de Psicologia são muitas vezes intrigantes e, por que não dizer, até fascinantes? Eu, particularmente, me encanto com algumas delas. Lendo, outro dia, o artigo “No coração do homem, a inscrição de Deus”, publicado na revista “Arautos do Evangelho”, deparei-me com uma surpreendente revelação científica: o ser humano desde a idade de poucos meses pode distinguir ações boas das más e, o melhor da história: ele apresenta uma tendência natural para o bem. Tudo isso detalhado em pesquisa comandada, pelo Professor Paul Bloom, à frente de sua equipe de cientistas do Departamento de Psicologia da renomada Universidade de Yale (USA) e, publicada em artigo na New York Times Magazine em 05 de maio de 2010.
A pesquisa em si já foi desafiadora, pois o grupo de psicólogos reuniu bebês bem pequenos, entre apenas seis e dez meses, para assistirem várias vezes a certas situações representadas por figuras geométricas e bichinhos de pelúcias, todos de boa aparência, praticando atos com a intenção de ajudar ou prejudicar o protagonista da história. Posteriormente, os bebês demonstrariam sua predileção pelo personagem mocinho ou vilão. Em uma das etapas, as crianças tiveram que assistir a uma bola vermelha tentando subir uma alta colina e, por duas vezes, a bolinha cai. Na terceira tentativa, um triângulo amarelo a ajuda e a bola chega ao topo, cumprindo sua meta. Em outra versão, a bola tenta subir novamente sem sucesso. A seguir, aparece em cena um quadrado azul que, ao invés de ajudar, derruba a bolinha sem dó nem piedade. As crianças assistiam a tudo com atenção e quando ficavam diante de um quadrado azul e um triângulo amarelo idênticos aos da apresentação tinham de escolher um dos dois. Para surpresa geral, 80% dos bebês preferiram o triângulo solidário. Seria mesmo uma surpresa? As crianças, mesmo sem nenhuma influência dos adultos, mostraram em sua maioria uma inclinação para o elemento que praticava boas ações. Foi o primeiro sinal que o ser humano, mesmo sem a influência social, poderia inclinar-se naturalmente para o bem. Mas, não podemos esquecer que 20% gostaram mais do quadrado estraga-prazeres…
Para não haver dúvidas ou conclusões precipitadas, os cientistas realizaram mais três testes. No próximo, o protagonista era um cachorro de brinquedo fazendo tentativas de abrir uma caixa. Surgia, então, um ursinho de pelúcia tentando ajudá-lo e, logo depois, aparecia um outro que se sentava sobre a caixa, sem a menor cerimônia, e estragava os anseios do cachorrinho. Quando colocadas diante dos dois ursinhos, a grande maioria das crianças – desta vez a revista não menciona a porcentagem – mostrou carinho pelo urso bom. A segunda pesquisa, portanto, confirmou a tendência anterior. Haveria necessidade de mais testes? Claro. Vamos a eles. Na terceira experiência, a vítima foi um gatinho, que deixava cair sua bola ora à sua esquerda ora à sua direita. Quando a bolinha caía perto de um coelho de pelúcia de camisa avermelhada, este lhe devolvia a bola; entretanto, quando a bola caía próximo a um outro coelho de camisa verde, este lhe tomava a bola e sumia com ela. Este foi um dos casos mais curiosos, pois os bebezinhos de cinco meses preferiram o coelho amigo, mas não é que alguns nenéns maiores não só gostaram do coelho bom, mas também resolveram bater no coelho mau? Os bebês indignados já resolveram fazer justiça com as próprias mãos…
O próximo teste da sequência seria o mais complexo e também o mais surpreendente. No último, apresentaram às crianças de oito meses um boneco que premiava o coelho bom e um segundo que o punia. Outros bonecos tinham o mesmo comportamento em relação ao coelho mau. Quando se tratava da situação que envolvia o coelho bom, as crianças escolhiam o boneco que premiara o bichinho. No entanto, quando se tratava do coelho mau, as crianças mostravam predileção pelo boneco que aplicara castigos nele. Em resumo, os bebês mostravam alegria tanto ao ver um boneco premiar o coelhinho bom como quando assistiam a um bonequinho punir o coelho mau. Sem dúvida, aquelas crianças de idade inferior a um ano já foram capazes de demonstrar senso de justiça.
Como explicar isso tudo? Afinal, ninguém pode dizer que os valores morais já haviam sido ensinados a essa crianças muito menos assimilados perfeitamente por elas. Um aspecto interessante na pesquisa é que os cientistas não induziram as crianças às respostas como poderiam ter feito apresentando o coelho de pelúcia praticando um ato de bondade e um monstrinho, em contraponto, fazendo um ato assustador. Os bichinhos eram idênticos, só havendo a distinção pela cor da blusa para que as crianças pudessem identificá-los. É fantástico ver que bebês tão jovens já pudessem demonstrar afeição pelos brinquedos que praticavam atos solidários e gentis. O que nós adultos podemos aprender com essas experiências? Que recados esse bebês nos dão?
Conclui-se que o ser humano, na maioria das vezes, tem uma tendência inata para as boas ações e é capaz de distinguir o bem do mal, sem necessitar de explicações elaboradas a respeito. A boa novidade é que a fé e a ciência estão mesmo se entendendo em vários aspectos. E se ambas estão chegando ao denominador comum sobre a existência de uma qualidade natural nas pessoas de avaliar as ações humanas através do modo como o indivíduo age como ser social, então, estamos mesmo diante de uma boa notícia. Uma certa sabedoria parece que já vem com a pessoa desde o seu nascimento, mesmo que necessite ser desenvolvida ao longo da vida, à medida que esta vai se tornando mais complexa. Podemos, deste modo, incentivar os pequeninos nas boas tendências e reforçar os exemplos de solidariedade e generosidade que muitas vezes estão em falta no mundo dos adultos. Pois, aos mais experientes cabe a tarefa também de reverter a tendência daqueles 20% que simpatizaram com o quadradinho amigo-da-onça… Para isso, é hora de recordar muitas máximas que aprendemos quando crianças e que muitas vezes esquecemos ao crescer, como aquela que diz “a imagem vale mais que mil palavras”. Isso mostra, portanto, que os bons exemplos são fundamentais. Os bebês que o digam… mesmo sem saber falar.
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