Capa do Almanaque histórico do Oswaldo Cruz - o médico do Brasil

OSWALDO CRUZ – UM GRANDE BRASILEIRO

Ao ler recentemente um Almanaque sobre o médico-sanitarista Oswaldo Cruz, publicado pelo Projeto Memória em 2003, surpreendi-me com a riqueza histórica da trajetória deste profissional, que foi pioneiro em várias ações estratégicas no campo da medicina e pesquisa científica no Brasil, tais como a erradicação da febre amarela e da peste bubônica, apenas para citar alguns de seus feitos mais famosos. A minha leitura tornou-se uma descoberta e um grande prazer, pois cheguei à conclusão que, de fato, a jornada desse cientista é tão inspiradora que deveria ser amplamente conhecida pelos brasileiros, e estar presente em cada livro de História do Brasil, com significante destaque para a sua atuação e legado.

O importante, para qualquer pessoa ou população, é sempre o exemplo. Um exemplo de dedicação e talento que conquista qualquer um que admire quem ama o que faz e só faz o que ama. Oswaldo Cruz foi um apaixonado pelas ciências médicas e acreditava que o Brasil tinha condições de exterminar os surtos de doenças que afligiam o nosso povo. Inclusive, o alto índice de surtos fazia do Rio de Janeiro uma capital temida pelos estrangeiros do início do século XX por ser considerada uma das mais sujas do mundo. Em 1899, quando o sanitarista voltou do Instituto Pasteur em Paris, onde se especializou em bacteriologia, foi convidado para ir a Santos/SP combater a peste bubônica que se alastrava, sobretudo, no porto. E como, para esse fim, era necessária a aplicação do soro antipestoso e este só era fabricado na França, as autoridades da época criaram o Instituto Soroterápico Federal no Rio de Janeiro e Oswaldo Cruz… erradicou a peste. Então, em 1902, ele passou a dirigir o referido instituto que se situava em uma fazenda em Manguinhos, hoje nada menos que a Fundação Oswaldo Cruz. Em 1903, a convite do Presidente Rodrigues Alves, de quem teve irrestrito apoio, assumiu a Direção-Geral da Saúde Pública ao surgir novo desafio: erradicar a peste bubônica e a febre amarela no Rio de Janeiro. Quanto à primeira peste, não teve problemas para combatê-la e novamente conseguiu erradicá-la. E, para eliminar a segunda, criou a primeira equipe de mata-mosquitos do Brasil composta por oitenta homens. Apesar das inúmeras críticas da imprensa, de seus opositores políticos, e de grande parte da população, levou a frente o projeto eliminando os focos do mosquito transmissor da doença e os novos casos foram diminuindo ano a ano até que em 1907… erradicou a segunda peste. Mais uma vitória.

No entanto, nem tudo foi simples. Antes disso, Oswaldo Cruz enfrentou uma rebelião popular insuflada por seus detratores quando decidiu aplicar leis de obrigatoriedade referentes `a vacinação contra a varíola. Foi o que detonou, em 1904, a famosa Revolta da Vacina, que causou intenso quebra-quebra nas ruas do Rio. Como consequência, a insurreição foi contida, mas a vacinação deixou de ser obrigatória, e só por isso, essa peste, Oswaldo Cruz não conseguiu erradicar. Entretanto, após o sucesso da vitória sobre a febre amarela, ele ganhou em 1907, a medalha de ouro no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim. E, assim, voltou ao Brasil com grande reconhecimento, desta vez, tanto da imprensa como da população local, sendo recebido como um verdadeiro herói.

Ainda assim, o premiado e já amado sanitarista, encontrou dificuldades e sentiu a dor de não ter conseguido acabar com a tuberculose no Rio de Janeiro. Pois, como a doença atingia mais as populações pobres, o presidente de então, Afonso Pena, não reconhecia a importância do surto e não liberava as verbas necessárias para combatê-lo. Isto decepcionou o incansável médico que, em 1909, deixou o cargo de Diretor-Geral da Saúde Pública e decidiu dedicar-se apenas à direção do então rebatizado Instituto Oswaldo Cruz.

Como se não fosse pouco, ainda liderou expedições científicas, entre 1905 e 1906, que visitaram trinta portos em todo o país com o objetivo de higienizá-los segundo os padrões exigidos em âmbito internacional. Além disso, fez mais duas expedições sanitárias de suma relevância, uma à Ferrovia Madeira-Mamoré para combater a malária e a segunda à Belém do Pará em 1910, onde em apenas seis meses conseguiu erradicar a sua velha conhecida, a febre amarela. Outras equipes do Instituto percorreram o interior do Brasil, sob a orientação de Oswaldo Cruz, levantando estudos que ajudaram a entender melhor as doenças que havia em outras partes do país e a promover um saneamento básico e eficaz.

A contribuição de Oswaldo Cruz foi tão significativa em sua época que o levou a ser reconhecido e homenageado não só no Brasil como também no exterior. Aqui, chegou inclusive a ser membro da Academia Brasileira de Letras e primeiro prefeito de Petrópolis, com um grande projeto de urbanização e reestruturação da cidade, que não pôde desenvolvê-lo devido ao seu falecimento em 1917, aos 44 anos de idade, de insuficiência renal, deixando como herdeiros sua esposa e cinco filhos.

A influência do grande cientista continua até os dias de hoje, como podemos comprovar pelo pioneirismo e atuação fantástica da Fundação Oswaldo Cruz ou, simplesmente, FIOCRUZ, que é responsável pela produção de diversas vacinas, medicamentos, cursos de aperfeiçoamento de profissionais na área científica, desenvolvimento de pesquisas e implementação de programas sociais entre outras atividades.

Portanto, o fascinante exemplo de Oswaldo Cruz deveria ser muito mais divulgado em todo o Brasil, não só para servir de inspiração às novas gerações de médicos e cientistas do país, mas aos brasileiros em geral. Além de ter – com justiça – avenidas, ruas e praças com seu nome, entre outras homenagens, ele deveria ser, também, personagem frequente em trabalhos como minisséries de TV, produções cinematográficas – como já ocorreu em “Sonhos Tropicais” (2002) – e até revistas modernas de histórias em quadrinhos com fins didáticos. Pois, Oswaldo Cruz foi símbolo de determinação, coragem, estudo e empenho para tornar o Brasil e a sociedade mais saudável e proporcionar a todos uma melhor qualidade de vida. Enfim, merece toda a sorte de reconhecimento, esse que foi um médico-sanitarista, pesquisador, funcionário público exemplar, e acima de tudo, um grande brasileiro.

Fontes Consultadas:

Oswaldo Cruz, O Médico do Brasil. Almanaque Histórico, Rio de Janeiro/RJ,   Projeto Memória 2003, Fundação Oswaldo Cruz, 2003.

Sites:

http://www.projetomemoria.art.br/OswaldoCruz/index.html

www.minweb.com.br/cidadania/personalidades/oswaldo_cruz.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Osvaldo Cruz

www.fiocruz.br


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