Outro dia, resolvi fazer um passeio que certamente não faz parte do roteiro turístico badalado no Rio de Janeiro, mas que é uma verdadeira preciosidade para os amantes da história e ciência do país: a Fundação Oswaldo Cruz. O passeio que julguei ser uma visita a departamentos com cursos de formação e áreas de pesquisa acabou revelando-se uma ótima turnê pelo mundo das ciências, onde assisti a algumas exposições cativantes. E o melhor é que ainda pude contar com uma visita guiada ao Pavilhão Mourisco ou “Castelinho”, a única obra arquitetônica em estilo neomourisco do Rio, com um espaço especial dedicado ao fundador disso tudo, aquele que se tornou um dos maiores médicos-sanitaristas já conhecidos no Brasil: o Dr. Oswaldo Cruz.
Logo na entrada, pude apreciar o Centro de Recepção, cuja arquitetura homenageia as antigas estações de trem inglesas (que chique!), e também apresenta um painel com mosaicos sensacionais que retratam as expedições científicas da Fiocruz, como explica o folheto para os visitantes. O painel foi o escolhido para a minha primeira foto. Comecei bem o passeio.
A seguir, em frente a uma grandiosa biblioteca, entrei no Parque de Ciências que faz parte do Museu da Vida. Que surpresa quando me deparei com um cenário lúdico e totalmente interativo, com placas solares, um cata-vento, uma espécie de xilofone gigante, colunas ilustradas com alfabetos antigos e pinturas rupestres, uma célula tamanho família por onde crianças circulavam e brincavam, reproduções dos aparelhos auditivo e fonador e até uma máquina, com uma manivela na parte esquerda e outra na direita, que ao girar produzia energia para acender uma lâmpada. Isto só para dar alguns exemplos. Quase tudo foi feito de modo que os visitantes pudessem fazer experiências reais para entender os fenômenos científicos. Tudo ilustrado e acompanhado de pequenos textos. Havia sempre crianças no local que se divertiam com cada experimento. E eu também. Só não subi na célula e também não pedalei em um aparelho feito bicicleta porque minha saia não permitiu…
Enquanto eu redescobria a delícia de aprender ciências como as crianças, aproveitei para tirar muitas fotos e desfrutar da beleza da região, que se situa numa imensa área verde na Zona Norte do Rio. Ótima para se passear. Depois, prossegui para “Uma Aventura no Corpo Humano”, exposição também interativa projetada para crianças de cinco a oito anos de idade, onde podiam-se curtir bonecos do tamanho de uma criança real (onde se vê como é o interior do nosso corpo), o quebra-cabeça dos órgãos, a reprodução de um esqueleto e dos vários tipos de corações (em tamanho real) de animais comparados ao do ser humano, a reprodução do aparelho digestivo, e até uma viagem por dentro de um nariz. Isto mesmo, há uma réplica de um nariz adaptado para a altura das crianças para elas poderem fazer essa fantástica jornada nasal… Tudo muito colorido e divertido, orientado por profissionais especializados. Coisa fina.
Mais tarde, fui conhecer o famoso “Castelinho”, a que sempre admirei. Lembro–me da época em que estudava na UFRJ, passava pela Av. Brasil a caminho da Ilha do Fundão, olhava para o alto e ficava a contemplar a paisagem (quando o ônibus não passava rápido demais) imaginando como se poderia chegar até aquele castelo inigmático. Parecia algo quase inatingível… O tempo passou, a vontade de conhecer o castelo aumentou e eu vi que para chegar até lá, só bastava querer. E qual não foi minha satisfação quando fui caminhando e parei de frente ao “Castelinho”. Ele estava ali, lindo como sempre foi, bem diante de mim. Então foi bater a foto histórica e caminhar só mais um pouquinho. Caminhei e cheguei. Esperei pela guia e pude explorar cada ponto da visitação com a alegria de saber que ali fora o local real de trabalho do Dr. Oswaldo Cruz. Foi onde ele, de fato, pesquisou e desenvolveu seus projetos que revolucionaram a saúde pública do país. Lá pude ver uma exposição permanente sobre sua história e a do seu discípulo, ninguém menos que o Dr. Carlos Chagas. Vi os microscópios que usaram, os instrumentos técnicos com que trabalharam, os cadernos em que eles fizeram suas anotações e mais todo aquele mundo de curiosidade a respeito de ambos. Pena que as exposições não eram tão grandes como eu gostaria. Mas, só valeu a pena. Admirei de perto a rica arquitetura do Pavilhão composta de material de vários países, como os azulejos portugueses, maçanetas americanas em bronze dourado, mosaicos franceses nos pisos que lembravam tapetes orientais, a escadaria em mármore de carrara e luminárias alemãs, o elevador também alemão que é o mais antigo em funcionamento no Rio, entre outras beldades. Um luxo!
Segui depois para outras descobertas, como o da antiga Cavalariça, que comporta um salão com painéis, microscópios, vídeos, insetos em redomas, esqueletos verdadeiros de uma orca e um golfinho, ilustrações contando sobre a evolução das espécies e até mesmo a reprodução de uma casa do interior onde é fácil encontrar o “barbeiro”, inseto transmissor da Doença de Chagas. Não é à toa que o espaço é chamado de Biodescoberta. Com muitas fotos de animais, e histórias ilustradas, foi mais uma proveitosa aula de ciências. Fiquei inclusive emocionada quando vi as fotos do início do século XX, tempos em que o prédio era usado para alojar os cavalos que serviriam para desenvolver as vacinas usadas nos combates das pestes. Vi as baias de perto, e tudo que compõe ainda o também belo prédio da Cavalariça. Vi uma última exposição sobre nascimentos em outro setor e fiquei mais do que satisfeita. Sentei em um banco perto do Castelinho e fiquei a admirar aquela imponente construção, rica de beleza e de história, tanto do Rio de Janeiro como do Brasil. Um momento de contemplação, profundo e inesquecível. Depois da minha agradável reflexão, era hora de voltar. Fui fazendo o caminho de volta pela Alameda Oswaldo Cruz e peguei um táxi para casa. E se tudo fora bom, ainda viria a ter mais uma boa surpresa, o taxista não pôde descer pela via normal da saída dos carros e teve que dar uma volta por dentro da Fundação, para minha sorte, justamente nas áreas que não eram abertas à visitação. Pude ter o privilégio de ainda ver o local de residência dos estudantes de medicina, centros de produção das vacinas, unidades técnico-administrativas, institutos, etc.
Voltei para casa conversando com o taxista que se dizia orgulhoso de trabalhar na Fio-Táxi, porque os passageiros reconheciam a importância da Fundação. Fiquei feliz por ele, e por saber que a Fiocruz é responsável, entre outras atividades, por 50% das vacinas produzidas no território brasileiro e tem, inclusive, notório reconhecimento internacional. Fico mesmo feliz só pela existência da Fundação Oswaldo Cruz e em saber de sua trajetória de produção e desenvolvimento científico do Brasil. É, com certeza, um patrimônio dos cariocas e de todos nós brasileiros que merece ser conhecido por todos aqueles que desejam desfrutar de um dia diferente, totalmente envolvidos, absorvidos e encantados com mais esta joia da cultura, história, e das ciências do nosso país.
Fonte consultada:
Site oficial da Fundação Oswaldo Cruz: www.fiocruz.br
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