Pintura de Frei Galvão

FREI GALVÃO – UMA VIDA SANTIFICADA

Quando estive em Guaratinguetá em maio de 2009, só pensava em conhecer os lugares relacionados ao mais famoso frei da história da cidade, ou seja, Frei Galvão. E fui mesmo conhecê-los. E para minha total surpresa, ao visitar a casa onde ele nasceu, descobri que, naquele exato dia onze, comemorava-se o aniversário de dois anos de sua canonização. A fascinante coincidência me deixou lisonjeada e cada vez mais curiosa em saber da vida deste que foi oficialmente reconhecido pelo Vaticano como o primeiro santo brasileiro. E não me arrependi. Sua trajetória denota tudo o que pode representar um homem de boa índole, de conduta irrepreensível e extremamente dedicado a sua missão de vida.

Frei Galvão viveu durante boa parte do século XVIII. Nascido em 1739, em uma família de onze irmãos, desde a infância Antônio Galvão mostrava-se generoso com os pobres, atencioso com os familiares e amava a fé católica assim como os pais. O Brasil ainda era colônia de Portugal, e o interior de São Paulo não tinha muito estabelecimentos onde Antônio pudesse desenvolver seus estudos para tornar-se religioso. Aos treze anos, o garoto foi morar na Bahia onde estudou em colégio de jesuítas e manifestou o desejo de ser um deles, mas devido à perseguição do Marquês de Pombal a esta ordem, foi aconselhado pelo pai a ser franciscano. E ao consagrar-se sacerdote em 1762 no Convento de Santo Antônio no Rio de Janeiro, o já Frei Galvão deu início a sua jornada de popularidade, no sentido literal e figurado rumo a São Paulo. Para terem uma ideia, ele saiu do Rio com amigos e viajou para o outro estado a pé. Isto mesmo, a pé. Em suas viagens, sempre feitas andando, passava pelas localidades, pregando o evangelho, ouvindo confissões, celebrando casamentos e conquistando a simpatia do povo.

Duas histórias suas marcaram época e deram origem às, hoje famosas, pílulas de Frei Galvão. Em uma delas, um homem que sofria de cálculos renais aproximou-se do frei e pediu-lhe um remédio para curar a sua dor. O religioso, não tendo um remédio tradicional, teve a seguinte ideia: escreveu em uns pedacinhos de papel uma mensagem em latim que significava, “Depois do parto, Ó Virgem, permanecestes intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós.” O homem tomou as pílulas com fé e, logo depois, conseguiu expelir os cálculos e ficou curado. Um ato iluminado do Frei Galvão. Na outra história, um homem casado, muito nervoso, pediu ao frei que fizesse alguma coisa por sua esposa que, naquele momento, corria risco de morrer no parto com a criança. E, sendo assim, Frei Galvão receitou o remédio miraculoso: as pílulas. O homem levou-as para sua mulher ingeri-las e mais tarde, feliz da vida, retornou e disse ao frei que sua mulher tinha dado à luz depois que tomara as pequenas pílulas de papel e passava muito bem com seu filho. A partir destes episódios, o frei passou a ser muito famoso e procurado pelas pílulas milagrosas, sobretudo pelas gestantes.

Mas, os atos generosos do frei não paravam por aí. Ele, sem ter conhecimento acerca de arquitetura ou construção civil, tomou a frente de um projeto de edificação de um recolhimento para religiosas de quem era confessor. Em 1774, tornou-se o fundador do estabelecimento. Depois, resolveu criar um lugar maior para as irmãs. E, além de pedir a colaboração dos moradores na coleta de fundos, idealizou, desenhou, instruiu e ajudou a construir com as próprias mãos, ao lado de outros homens, o hoje Mosteiro da Luz, Patrimônio Cultural da Humanidade, tombado pela UNESCO, em São Paulo, capital. Passou aproximadamente 14 anos de sua vida dedicado à construção do recolhimento, e mais 14 anos para a edificação da igreja, entre 1788 a 1802. Ele atuou não só como projetista, mas também como pedreiro para abrigar religiosas da ordem das concepcionistas, para quem, inclusive redigiu um elogiado estatuto. Frei Galvão também era dado às letras, pois em 1766 redigiu a “cédula” de devoção à Virgem Maria, assinado com seu próprio sangue. E em 1770 compôs 16 poemas em latim e apresentou-os na Academia dos Felizes, sendo Sant’ Ana, mãe da Virgem, sua principal inspiração.

Como se não bastassem tantas virtudes, li que o frade tinha o poder da levitação e há relatos que, certa vez, um grupo de crianças viu-o levitando enquanto orava. E, outras pessoas o presenciaram deste modo em outras ocasiões, até mesmo ao andar na rua. Além disso, Frei Galvão ainda era capaz de realizar outros fenômenos, entre os mais famosos estão o de premonição, telepatia e bilocação. Este último dom consiste em estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ou seja, para ajudar as pessoas, o frei podia até desdobrar-se em dois. Eu mesma pude contemplar várias pinturas que retratavam esse fenômeno, quando estive no Museu Frei Galvão, em sua cidade natal. Foi admirável poder ver o número de obras dedicadas ao frade e, principalmente, aquelas que expressavam o carinho que ele tinha aos fiéis e à população em geral. Sua história de generosidade parecia mesmo não ter limites, pois já com idade avançada, em 1811, o frei aceitou participar de outro grande projeto: a construção de mais um recolhimento para religiosas, desta vez em Sorocaba. Frei Galvão faleceu, de morte natural, com o Brasil já independente em 23 de dezembro de 1822.

 O meu passeio a Guaratinguetá trouxe até mim a oportunidade de conhecer melhor a pessoa maravilhosa que foi o Frei Galvão. E fiquei totalmente impressionada com essa história de tamanha beleza. Pude conhecer não somente o Museu com o seu nome, mas também a Catedral de Santo Antônio onde ele foi batizado e celebrou sua primeira missa, o Seminário Frei Galvão, as dependências da casa onde nasceu, e ver de perto as relíquias e vários utensílios usados por ele e, em cada objeto, sendo de arte ou não, havia uma história de amor a Deus, ao sacerdócio, aos necessitados, ao próximo, à cidade, à vida em geral.

Frei Galvão foi um homem de conduta exemplar; tanto como filho, irmão, aluno, amigo, cristão, franciscano, frei e, sobretudo, como pessoa humana. Quando vivo, foi amado e respeitado pela população que o conheceu, e sua fama de santidade já corria a região. Agora, oficialmente canonizado pelo Vaticano, pude entender que, além dos milagres que Deus operou através de Frei Galvão, ele demonstrou enquanto viveu que era possível ser um cristão admirável, pregando e praticando a mensagem de Jesus. Enfim, Frei Galvão é um exemplo histórico, presente e inesquecível, de uma vida santificada.


Comentários

4 respostas para “FREI GALVÃO – UMA VIDA SANTIFICADA”

  1. Avatar de Mônica Coelho
    Mônica Coelho

    Que texto lindo! Obrigada por nos apresentar essa história maravilhosa!

    1. Querida Mônica, para mim foi uma surpresa e uma grande alegria ver o seu comentário no meu site! Espero que tenha gostado de verdade de São Frei Galvão! Ele é o nosso 1º santo nascido no Brasil e a história dele é tão linda que deveria ser conhecida pelos católicos em todo o território nacional. Sei que isso é muito difícil, por isso resolvi deixar aqui a minha contribuição. Muitíssimo obrigada!

  2. Avatar de Maria Angélica
    Maria Angélica

    Parabéns, Débora, pela linda e amorosa iniciativa nessa divulgação de seu documentário sobre a vida de nosso querido Santo Frei Galvão. Deus a abençoe! São Frei Galvão, rogai por nós e nossas necessidades temporais e espirituais!

    1. Querida Maria Angélica, que satisfação de encontrar o seu comentário aqui! Que alegria! Você sabe que amo São Frei Galvão e faço o que está a meu alcance para divulgá-lo. A história dele é belíssima e exemplar! São Frei Galvão, rogai por nós!

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