Movida ainda pelo espírito esportivo depois de acompanhar os destaques das Olimpíadas de Londres, Edição 2012, decidi conhecer um pouco mais sobre a formação de atletas em alguns dos países que foram bem-sucedidos nas competições para ver qual poderia servir de inspiração para o nosso país. Afinal, o Rio de Janeiro sediará os próximos Jogos Olímpicos e o mundo todo passará a observar com olhos clínicos o desempenho dos atletas brasileiros. E eu também. O Brasil, como todos sabem, carece de uma política esportiva objetiva e bem-estruturada para formar grandes atletas em um número realmente expressivo de modalidades. Mas, se há um modelo moderno e eficiente de formação de atletas é o modelo russo. Isto porque aposta no fundamental: na educação.
Foi através de uma reportagem do canal SPORTV que tomei conhecimento do sucesso do sistema esportivo da Rússia que começa a partir das escolas. Um sistema tão eficaz que lhe rendeu 82 medalhas em Londres, sendo 24 de ouro, em contraste com as 17 conquistadas pelo Brasil, considerando que ambos são países emergentes, integrantes dos BRICS. As crianças russas, aos 7 anos, já começam a praticar alguma modalidade esportiva nas aulas de educação física. Vi cenas de crianças alegremente praticando natação, remo, corrida, entre outros esportes como parte do currículo escolar. Mais tarde, quando se tornam adolescentes, aqueles que mais obtiveram resultados positivos são convidados a morar em uma das 36 escolas de reserva olímpica do país. Lá, os jovens usufruem de toda a tranquilidade de ter moradia, estudo e formação atlética de alta qualidade com todos os custos financiados pelo Estado. E os adolescentes desenvolvem tanto que dos 320 que integram uma destas escolas apresentadas na reportagem, 50% estão em alguma seleção do país. Os índices de desempenho são tão expressivos que estes jovens tornam-se exemplos para todos aqueles que sonham com o pódio olímpico. E muitos chegam lá. É muito bonito ver que o esporte na Rússia é estimulado desde a infância e considerado um motivo de grande satisfação nacional.
No Brasil, em contrapartida, a professora da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, Maria Tereza Silveira Böhme, afirma que as escolas pouco agem no papel de incentivadora na instrução esportiva: “A partir da década de 80, elas perderam a responsabilidade com a formação nesse campo.” E além disso, ela acrescenta que o espaço destinado ao treinamento dos principiantes nos clubes está sumindo. A meu ver, está claro que formar atletas-mirins no Brasil está cada vez mais difícil e este estímulo nas escolas, em geral, é muito fraco. Apesar de o Brasil ter aumentado em 528% o investimento no esporte nos últimos anos, segundo dados da reportagem publicada na Revista Época em 20/08/2012, o país ainda não apresentou um planejamento efetivo para tornar-se, de fato, competitivo e vencedor.
Voltando ao modelo russo, pude constatar que há todo um sistema voltado para a geração de atletas de alta performance e experts em esporte. Apenas para citar uma universidade pública tradicional de Moscou, lá estudam 6.000 alunos que estão se especializando na área esportiva, distribuídos pelos cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado. Há, inclusive, muita atenção direcionada ao surgimento de uma nova geração de treinadores para dar continuidade a este modelo consagrado. É fantástico ver que a Rússia continua a preservar tão bem o modelo estatal de sucesso esportivo mesmo após a dissolução da antiga União Soviética em 1991. Vale lembrar que a URSS ainda ocupa a 2ª posição no ranking entre os maiores países ganhadores de medalhas olímpicas em todos os tempos, com 1010 medalhas conquistadas. E a Rússia sozinha já se encontra na 12ª posição, com mais de 400 medalhas. E o melhor da história é que os russos herdaram o que havia de maior qualidade deste sistema educacional-esportivo soviético e ainda o aperfeiçoaram após a abertura política e econômica aos países ocidentais capitalistas. Pois, a Rússia passou a investir muito mais em tecnologia, não somente para treinar os atletas, mas também para avaliar melhor suas condições físicas. Este modelo empregado na Rússia, inclusive, já foi adotado por outros países que também despontam nas competições como a Alemanha e a China.
Acredito que a educação esportiva da Rússia possa servir de inspiração para vários países do mundo, inclusive para o Brasil que tem uma economia, em números, semelhante a daquele país. Em termos de comparação, a Rússia em 2011 era a nona potência econômica, com um PIB mundial de 1,8 trilhão de dólares, enquanto o Brasil era a sétima, com um PIB de 2,4 trilhões também em dólares. A população do primeiro país é de cerca 142 milhões de habitantes e o nosso tem em volta de 194 milhões. O Brasil, estatisticamente, está melhor em termos econômicos. A diferença prática está, em essência, na distribuição das verbas destinadas às escolas e universidades como um todo e também ao desenvolvimento da Educação Física para o futuro esportivo das crianças. Em nosso país, não faltam jovens talentosos em todas as áreas. E no esporte, já vimos atletas e mais atletas que mesmo com pouco chegarem bem longe como os atuais campeões olímpicos Arthur Zanetti, nas argolas, e Sarah Menezes, no judô, que até os Jogos Olímpicos de 2012 eram quase que totais desconhecidos do público brasileiro.
O Brasil pode ser uma clara potência esportiva se houver um planejamento sério para esta finalidade. E apostar na educação, como faz a Rússia, é um excelente caminho, como sempre. Um excelente caminho não só para formar grandes atletas, treinadores e profissionais do esporte, mas também para ser um berço para todos os tipos de talentos em nossa terra. Para que nós, brasileiros, possamos ter a alegria de ser ouro constante nas Olimpíadas e ter a alegria ainda maior de a educação ser ouro permanente em nossas vidas.
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