Enquanto lia o delicioso “Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal”, de Allan & Barbara Pease, deparei-me com um capítulo que me chamou a atenção para os efeitos físicos e emocionais de um dos meus mais queridos passatempos: dar risadas. Jamais pensei que este agradável hábito pudesse propiciar benefícios diretos para a saúde além de servir como eficaz tratamento terapêutico. A partir da leitura do capítulo “A magia dos sorrisos e risadas”, o tema me conquistou e descobri que desde a década de 1960 os pesquisadores têm desenvolvido estudos científicos envolvendo os risos em tratamentos médicos com resultados positivos em vários tipos de doentes, sejam crianças ou adultos, o que resultou na criação da risoterapia ou terapia do riso. A meu ver é uma atividade bastante fácil de praticar e mais do que prazerosa para se melhorar a saúde.
O exemplo mais notável que encontrei foi o do norte-americano Norman Cousins que, quando descobriu que tinha uma espécie de artrite incurável que lhe provocaria dores por toda a sua vida, resolveu tomar fortes doses de vitamina C, desenvolver atitudes positivas em seu dia a dia e viver com mais amor, fé, esperança e… gargalhadas, sob a influência dos filmes dos irmãos Marx. Ele procurou ver todas as comédias que queria e rir o mais intensamente que pudesse. E assim o fez. Divertia-se ao máximo com as histórias e começou a sentir que quanto mais ele ria, mais aliviava-se das dores. Foi um santo remédio! Depois de apenas seis meses, o homem que estava condenado à uma prisão perpétua de dor, ficou inteiramente curado para o espanto da classe médica em geral. Tudo isso graças às endorfinas, hormônios naturais produzidos durante as risadas, que servem como analgésico semelhante à morfina, mas com efeito cem vezes superior.
Entretanto, os efeitos benéficos do riso não se limitam ao alívio de dores. O Dr. Michael Moleiro, pesquisador da Universidade de Baltimore (EUA), com base em seus estudos e de sua equipe de neurologistas realizados em 2001, afirmava na época que o riso parecia ser tão salutar quanto 30 minutos de exercícios praticados três vezes por semana. Os motivos? O riso ativa o sistema cardiovascular, beneficia o sistema respiratório e a oxigenação sanguínea, fortalece o sistema imunológico e ainda por cima estimula o cérebro na liberação de substâncias que ajudam a reduzir o stress. Se o Dr. Moleiro comprovou tantas maravilhas provocadas pelas risadas já no século XXI, muito se deve ao médico norte-americano pioneiro da risoterapia, o Dr. Hunter “Patch” Adams que fundou até o Instituto Gesundheit que propaga a humanização da saúde. Uma de suas ideias principais é que o riso e o bom-humor devem ser aliados da medicina, assim como a cooperação, a criatividade e o amor. Suas realizações foram, inclusive, retratadas no filme “Patch Adams – O Amor é Contagioso” com o ator Robin Williams em 1998. As experiências positivas em fazer com que pacientes rissem mais no ambiente hospitalar para ajudar na sua recuperação fez com que nos Estados Unidos, nos anos 1980, os hospitais introduzissem salas de riso com sessões diárias de humor para os pacientes, incluindo livros, filmes e vídeos de humor, além da visita de comediantes e palhaços. Tanto a saúde dos pacientes melhorava sensivelmente como passavam menos tempos internados. Não é um exemplo e tanto?
No Brasil, felizmente, já há adeptos como o grupo de médicos “Doutores da Alegria”, fundado em 1991 em São Paulo, cuja especialidade é propiciar alegria nos tratamentos às crianças nos hospitais. A terapia do riso também já foi usada em adultos no país como o realizado por outro grupo, “Os Voluntários da Risoterapia.” Os resultados foram igualmente satisfatórios, pois pacientes reagiram mais em relação às doenças, proporcionando contentamento e bem-estar tanto aos seus familiares quantos aos profissionais da saúde e melhorando o clima de todo o ambiente hospitalar. Uma alegria e tanto!
Aliás, rir pode ser muito benéfico à saúde, acredito eu, independente de a pessoa estar com alguma enfermidade. Eu, indiretamente, acabei experimentando uma forma de terapia do riso sem ter a menor consciência dos benefícios dos quais eu estava usufruindo. Há cerca de cinco anos, comecei a passar por um processo pessoal de mudanças, e entre elas a de melhora no meu estado emocional. Coincidiu, se é que há coincidências, de trabalhar ao meu lado a Eliana, minha amiga desde então e, uma das mulheres mais engraçadas que já conheci. Ela, quase que diariamente, contava em alto e bom som histórias inusitadas que ocorriam em sua vida pessoal. Eu não me continha. Com frequência, ao fim do expediente tinha prolongados acessos de riso e me sentia incrivelmente melhor. A cada dia, eu ficava ansiosa em ouvir seu rico repertório de histórias hilariantes e pude apreciá-lo ao longo de quase três anos. Durante esse período, eu que estava à procura de ficar cada vez mais bem-humorada, recebi uma ajuda involuntária que me propiciou momentos de alegria e benefício particular. Não é de se admirar que depois que ela deixou de trabalhar comigo, eu, inconscientemente, procurei assistir a mais filmes de comédia e também infantis que tivessem muito humor. Eu não queria mais parar de ter minhas doses frequentes de gargalhadas. E não parei. Hoje em dia, sorrio e rio muito mais do que antigamente. É claro que há vários motivos para isso, mas agora sei de experiência própria que devemos estar de bom-humor o máximo que pudermos, pois essa atitude melhora nossos relacionamentos, a produtividade, o estado emocional e até a saúde.
Neste contexto, fico mais do que feliz em saber que a medicina já busca medidas alternativas que vão além do tratamento convencional das alopatias. A visão holística da saúde que tenta tratar o ser humano como um todo, ou seja, em seus aspectos físicos, emocionais, psíquicos e espirituais é fundamental. Espero que a implantação de terapias dinâmicas, criativas e divertidas como a risoterapia e a instalação de salas de riso nos hospitais do mundo inteiro sejam cada vez mais comuns. E deste modo, espero também que o hábito de rir, que além de tudo, ainda é contagiante, seja também mais constante na nossa sociedade ajudando a espantar o desânimo e deixando qualquer doença de vida curta. Portanto, vamos sorrir e rir muito mais: é fácil, barato, engraçado, bonito, saudável e até aprovado pela ciência!
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