Recentemente, voltei a ser contagiada pela alegria de ver as conquistas femininas na área de enfermagem, carreira que admiro desde minha juventude. Além de acompanhar com entusiasmo todas as 2ª feiras as aventuras da enfermeira/parteira Jenny Lee e suas colegas no seriado inglês baseado em fatos reais “Call the Midwife*” pela BBC HD, tive a oportunidade de conhecer o trabalho inovador da minha prima Semírames em Fortaleza/CE, que criou o “Espaço de Apoio à Maternidade – Mãe do Corpo.” O espaço tem por finalidade orientar mães, gestantes e profissionais da área de saúde através de cursos, atividades, atendimentos em grupos ou individuais para que haja o desenvolvimento pleno da maternidade. Um dos objetivos principais é a formação de doulas e a humanização do parto normal. Projeto ambicioso que torço para que seja muito bem-sucedido. E tudo isso me despertou o desejo de homenagear esta difícil e gratificante profissão, o de enfermeira(o), relembrando a mulher que revolucionou toda a história da enfermagem: a senhorita Florence Nightingale.
Reli com muita satisfação a biografia desta inglesa que nasceu em 1820 em uma família riquíssima, mas depois de sentir que recebera um chamado divino por volta dos 17 anos, percebeu que sua vida não poderia restringir-se ao mundo da pompa e da riqueza. Muito tempo depois, decidiu dedicar-se a cuidar dos doentes e treinar enfermeiras em uma época que sequer a profissão tinha reconhecimento legal. E, como agravante, apenas as mulheres pobres, iletradas, muitas vezes ligadas ao álcool e à prostituição entravam para a enfermagem e eram pessimamente remuneradas. Os hospitais eram imundos e os doentes ficavam amontoados com doenças de diversos tipos em camas compartilhadas sem as mínimas condições de higiene. Os asilos para os pobres da Grã-Bretanha, de tão sujos e sem estrutura, causavam medo à população. Os soldados britânicos eram mal-nutridos, mal-tratados, vistos como “escória” pelos oficiais e quando feridos em combate eram empilhados em um ambiente insalubre sem alimentação e medicamentos adequados, além de não receberem nenhuma atenção especial pelos militares superiores, como ela presenciou durante a Guerra da Criméia (1854-1856).
O cenário era de horror. Apesar das inúmeras oposições que enfrentou da família durante muitos anos e da sociedade da época, tendo poucos aliados, Florence conseguiu transformar toda essa realidade. Durante a guerra, ganhara notoriedade como “A Dama do Lampião” por passar todas as noites pelos corredores sob a luz de seu lampião para visitar com carinho os soldados feridos. Assim, conquistou o apoio de ninguém menos que a Rainha Vitória, da imprensa e da população britânica em geral, venceu seus opositores, inclusive os do meio militar e então começou uma reforma sem precedentes na saúde em seu país e no mundo. O seu pioneirismo em várias áreas impressionava. Foi pioneira no estudo de administração e construção hospitalares. Foi pioneira no ensino de enfermeiras ao fundar a primeira escola de enfermagem do mundo. Foi também uma das pioneiras no campo da estatística, pois foi uma das primeiras pessoas a usar o gráfico conhecido como “pizza” para ilustrar seus minuciosos e bem-estruturados relatórios. Foi pioneira, inclusive, na medicina preventiva e no treinamento especializado de parteiras. Lutou, incansavelmente, por reformas no exército, por melhorias nas instalações dos hospitais militares assim como no tratamento dos soldados, na elevação do status da profissão de enfermeiras e até por mudanças de leis no parlamento como a Lei de Assistência Social Metropolitana (1867), que ajudaria a mudar para sempre a situação dos asilos no Reino Unido.
Como recompensa, passou a ser uma mulher respeitada e querida em seu país e no exterior. Florence conseguiu conquistar ao longo dos anos a admiração da realeza, de políticos influentes, dos pobres, dos soldados, das enfermeiras, além do reconhecimento da própria família. E, é claro, era muita amada por suas alunas. Os países desenvolvidos passaram a construir os seus melhores hospitais seguindo o receituário de excelência da senhorita Nightingale, ou seja, com limpeza, espaço, ventilação, organização, equipes de médicos e enfermeiras qualificados e atenção maior aos pacientes, incluindo uma melhor alimentação. Diversos países também passaram a contratar as alunas de Florence para trabalhar e treinar novas enfermeiras. A revolução estava feita. Quando faleceu em 1910, Florence Nightingale já tinha deixado um legado inspirador. Os pobres e os militares de baixa patente passaram a ter um tratamento muito mais digno. As moças que se dedicavam à enfermagem eram vistas como profissionais respeitáveis e assim, a história das mulheres já estava mudada. Para melhor.
Lembro-me, agora, com nostalgia da visita que fiz ao Museu de Florence Nightingale quando eu estive em Londres lá no século passado (1999). Vi fotografias, cadernos de anotações, instrumentos e até roupas usadas pela própria Florence. Quando vi um vestido seu, de tão perto e tão bem-conservado, emocionei-me. Não é que tinha sido mesmo usado por ela? Olhava e admirava tudo. E ainda assisti a um vídeo contando sua história. O museu fica no Hospital St. Thomas, o mesmo onde ela fundou aquela primeira escola de enfermagem. Foi realmente uma experiência enriquecedora que sonho um dia em repetir.
Enquanto isso, deixo aqui a minha homenagem a todas as enfermeiras e aos enfermeiros também que contribuem para a melhoria da saúde da população e à Florence Nightingale. Uma homenagem que há muito tempo pensava em fazer, em especial para “O Dia do Enfermeiro.” O único problema é que eu não me lembrava que dia do ano era. Foi conversando no mês passado com a minha prima Angélica, mãe da Semírames, que muito me incentivou a escrever o texto, é que despertei para ver qual era a data. Vim a saber dias depois que era 12 de maio, data do nascimento de Florence. Acredito que esta vontade de prestar logo a minha homenagem não foi coincidência, mas obra da Divina Providência, pois o dia 12 de maio foi exatamente quando tive a conversa com a minha prima. E, vocês, também acreditam?
*Obs: (Em tradução livre) “Chame a Parteira.”
Fonte consultada:
BROWN, Pam. Florence Nightingale. Série: Personagens que mudaram o mundo. Os Grandes Humanistas. Editora Globo. 1993.
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