Foto de um outdoor com os dizeres: Francisco está aqui!

JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE : ENTRANDO NO CLIMA

No momento, não consigo parar de pensar nessa sensacional Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro que proporcionou tantas alegrias a todos aqueles que puderam acompanhar os passos do Papa Francisco em sua primeira visita oficial a um país estrangeiro desde sua eleição em março deste ano. E claro, reservei bastante espaço na minha agenda para participar ativamente das festividades. Mas primeiro, eu precisava entrar no clima, e eu confesso que só entrei mesmo próximo ao início do evento. E agora, pelo visto, o clima contagiante da JMJ e todo o seu impacto ainda vão continuar em mim por muito tempo…

Para começar, fui à estreia da peça “Enlace – A Loja do Ourives” baseada na obra de ninguém menos que o Beato João Paulo II! E a história surpreendeu-me, pois não tinha nada a ver com o sacerdócio, mas era sobre o amor romântico na visão de três gerações de mulheres de uma mesma família. A narrativa enfocava a avó que sempre amara seu marido que faleceu durante a 2ª Guerra Mundial, a sua filha que fora rebelde na era “hippie” e nunca valorizou o amor que seu marido tinha por ela e a neta na década de 80 que vivia um dilema: mesmo apaixonada, casar ou não casar, eis a questão… A peça revelou-se um ótimo musical, que contava com momentos de humor e drama e deixava clara a sua mensagem: em qualquer época, vale a pena viver o amor! Acho que comecei a JMJ com o pé direito.

Li também com todo o pique “A Vida de Francisco – O Papa do Povo”, a biografia de Jorge Mario Bergoglio escrita por sua conterrânea argentina Evangelina Himitian. Para quem quer entender a trajetória do novo Sumo Pontífice desde sua infância até chegar ao Vaticano, vai com certeza encantar-se com sua história de fé, simplicidade e coragem ao mesmo tempo. Pois, o livro conta com detalhes o seu amor pelos pobres, seu profícuo trabalho nas favelas de Buenos Aires, seu posicionamento contra a exploração da mão-de-obra boliviana e o tráfico de mulheres na capital argentina, assim como sua ajuda a religiosos e pessoas perseguidas pelo regime da Ditadura Militar de seu país na década de 70. Isto e muito mais. A obra é muito bem-escrita e após a leitura, virei uma autêntica fã de Papa Francisco. Mal poderia esperar para vê-lo perto de mim. Será que eu conseguiria?

Logo os peregrinos do Brasil e do mundo inteiro começavam a chegar à cidade. Só na minha igreja havia quatrocentos. E havia ainda inúmeros hospedados em casas, paróquias e colégios, entre outros estabelecimentos. Então pude presenciar a alegria dos jovens em todos os lugares por onde eu passava. Nas ruas, os grupos saudavam uns aos outros com toda a vibração. Nos ônibus, os peregrinos também acenavam para os outros que passavam nas calçadas e sempre recebiam um caloroso feedback. E eu também ia na onda. Ainda vi diversas cenas de animação peregrina, inclusive, em estação do nosso turbulento metrô. Para circular entre as estações durante os eventos do Papa em Copacabana, o usuário teria que entrar numa fila especial para adquirir o seu bilhete. Durante uma semana vi filas quilométricas se formarem naqueles guichês. Só isso seria o suficiente para ver as pessoas exasperadas, impacientes e reclamando sem parar. E o que vi? Jovens felizes, desfraldando imensas bandeiras de seus países pelos corredores e outros agitando bandeiras menores sob aplausos de uma multidão de pessoas, enquanto alguns grupos ficavam tocando, cantando e até dançando efusivamente enquanto a fila andava. Uma festa só. Havia gente de vários estados do Brasil, países da Europa e principalmente da América Latina. Tanto que, de vez em quando, começavam a clamar um dos slogans latinos da JMJ: “Esta es la juventud del Papa!” Custou-me a entender totalmente as palavras… Mas não me custou a entender o espírito daquela juventude. A alegria era tanta que contagiava quase todos que passavam por ali. Muitos fotografavam com sua câmeras digitais e smartphones aquelas cenas de euforia na Estação Carioca. Eu também não perdi a oportunidade. Fotografei brasileiros, espanhóis, argentinos, equatorianos, costa-riquenhos, chilenos, uruguaios, venezuelanos, entre outros. Aliás, nunca ouvi tanta gente falando espanhol na minha vida… Também não quis nem saber. Chegava na maior cara-de-pau falando mesmo em português – não arrisquei nem falar o “portunhol” – e pedia para eles posarem para mim, sobretudo quando estavam com as bandeiras. Sempre recebia respostas positivas de todos e voltava para casa feliz da vida com as minhas fotos e com a lembrança de tanta simpatia e receptividade.

No dia 22 de julho, dia da chegada do Papa, fui à uma exposição de missionários católicos em frente ao Convento de Santo Antônio (conheci até uma brasileira que fazia missão em Bangladesh!), confraternizei-me com freis franciscanos da Toca de Assis que barbeavam e cortavam os cabelos de moradores de rua, ouvi um conjunto de venezuelanas cantarem e, lógico, tirei fotos e mais fotos. Quando soube que seria liberada do trabalho mais cedo, não pensei duas vezes, fiquei no Centro da cidade para esperar o momento por que todos ali sonhavam: o de ver o Papa de perto. Ele iria para a Catedral e o Teatro Municipal. E eu resolvi ficar numa rua de passagem pouco comentada, a Avenida Nilo Peçanha. Não poderia ter feito melhor escolha para a ocasião. Havia pouca gente, nenhum tumulto e só aos poucos as pessoas foram tomando as calçadas. Lembram do Zaqueu que subiu no alto de uma árvore para ver Jesus? Com certeza, ele serviu de inspiração para alguns jovens com bandeiras do Uruguai e do Chile que resolveram fazer o mesmo na Praça Mário Lago. E quando o papamóvel passou, o povo se entusiasmou e muitos gritaram com vontade: “Papa Francisco!” “Viva o Papa Francisco!” Ele, com seu sorriso marcante e jeito atencioso de acenar, procurou saudar a todos sem distinção. Pena que foi tão rápido. E o pior, com cabeças e braços pulando para todos os lados e na minha frente, inclusive, não deu para tirar nenhuma fotografiazinha… É. Mas, o melhor eu tinha feito: já tinha visto o Papa. Assim, ele passou perto de mim e eu, como os demais, fiquei com aquele gostinho de “quero mais”.

Quando cheguei à casa, vi pela TV as cenas impressionantes das multidões que se formaram em outras partes do Centro, principalmente, ao redor da Catedral. De onde eu estava não vi nem de longe aquele show de euforia em torno do Papa. As milhares de pessoas que ali estavam ficaram comovidas mesmo, muitas só por tê-lo visto de longe. Outras romperam as barreiras dos seguranças para poder aproximar-se dele, tocá-lo e receber uma bênção. Isso desde que seu carro pegou congestionamento na Av. Pres. Vargas. Muitos choraram de emoção ou vibraram com toda a alegria. Não faltaram milhares de jovens além de pessoas de todas as idades. A recepção ao Papa Francisco tinha sido muito mais calorosa do que eu imaginara. A vontade de estar no meio de todo aquele povo animado, devotado e espontâneo aumentava ainda mais dentro de mim. Eu não tinha nenhuma dúvida que queria participar dos eventos marcados para Copacabana, onde eu ficaria hospedada no apartamento de uma colega. Em breve, eu viria a saber que, devido à forte chuva que caiu na cidade, o terreno de Guaratiba, onde seriam realizadas as cerimônias da Vigília e a Santa Missa, tinha virado um tremendo lamaçal. E, para meu deleite, todos os eventos tinham sidos transferidos para a Praia de Copacabana. Esta era minha grande chance…

E parodiando o mote que circula por aí: “Se a acolhida ao Papa Francisco no Centro foi animada desse jeito, imaginem em Copa…” O Rio de Janeiro ainda nem teria ideia das profundas provações pelas quais a cidade iria passar e eu começava a minha própria jornada para vivenciar a força da espiritualidade cristã. A JMJ estava só começando e muitas, muitas cenas inesquecíveis de fé, confraternização e alegria ainda estariam por vir… E como!


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