Painel com escritoras nacionais e internacionais

ESCRITORAS E BLOGUEIRAS: AS MULHERES NAS LETRAS

Neste mês, senti o inevitável impulso de homenagear as mulheres com uma crônica devido à data de 8 de março, o celebrado Dia Internacional da Mulher, já um marco mundial. Difícil era escolher um ponto específico entre as inúmeras conquistas femininas que ocorreram em diversos países do mundo e ganharam impulso principalmente ao longo do séc. XX. Mas, em meio a esse inefável dilema, lembrei-me, em particular, daquelas mulheres que têm, e muito mais as que tiveram, a bela audácia de escrever bem. Porque uma mulher expressar suas emoções e pensamentos em tempos passados era, de fato, uma grande audácia. Ainda mais fazer isso num reduto elitista como o da literatura. Pensei em todas as escritoras que fizeram parte da minha história, desde os tempos em que eu devorava os textos dos livros didáticos de português, as crônicas publicadas nos jornais em minha adolescência ou os livros dos meus bons tempos da Faculdade de Letras da UFRJ. E tudo isso bem antes das moderníssimas publicações em blogs e sites com que, inclusive, me entretenho atualmente. Não faltaram ótimos nomes e recordações que contribuíram para que até hoje eu me emocione com um texto cativante escrito também por uma mulher.

Lembro-me, entretanto, que eu não encontrava muitas obras redigidas por autoras em relação à oferta de hoje em dia. Eu pouco a pouco descobria os autores e mesmo com esse panorama literário predominantemente masculino, torcia para encontrar as autoras que poderiam servir-me de inspiração. E, sem dúvida, isto aconteceu. Ainda na infância, li pela primeira vez Clarice Lispector e impressionei-me por seu conto “Come, Meu Filho” em um livro escolar.  Nem sabia que este seria o meu contato inicial com a obra de uma escritora que transcendeu as fronteiras literárias de nosso país e se inseriu no seleto rol da Literatura Universal. Anos mais tarde, encontrei-a novamente, já na faculdade, e aventurei-me pela prosa densa, complexa, intrigante de Clarice através de livros de contos e romances como “Laços de Família”, “A Legião Estrangeira”, “A Hora da Estrela”, entre vários outros. Se esta grande estrela das letras brasileiras teve a sua hora certa de me cativar, muitas outras autoras ainda teriam o seu momento. Também na infância, conheci a poesia de Cecília Meireles e encantei-me com seus versos leves, ricos, delicados e não a esqueci mais. Tanto que figura entre meus livros mais refinados um belo volume com sua poesia completa. Mas, ainda hei de ler suas crônicas. Aguardem-me! Até hoje lamento que uma autora tão talentosa como ela não constasse do currículo do meu curso de graduação. Do mesmo modo, sinto sobre a minha cronista predileta, Elsie Lessa, a única pessoa na História do Brasil a manter uma coluna em um mesmo jornal ao longo de incríveis 48 anos! Simplesmente de 1952 a 2000.

Apesar dos deslizes curriculares, a faculdade proporcionou-me a experiência fabulosa de poder explorar o universo das mais diversas vertentes da prosa e poesia. Lia, estudava e, o melhor, deleitava-me ao conhecer o estilo de cada autor em uma determinada época da História. Sentia que a cada poema, conto, crônica, romance, crítica literária, ensaio ou peça teatral com que travava conhecimento, a minha paixão pela literatura crescia mais e mais. E entre as poucas escritoras eleitas do meu curso de Português-Inglês, vou destacar agora as que mais me impressionaram. A primeira da lista foi a norte-americana Dorothy Parker, que ganhou projeção a partir da década de 1920 na Nova York da intensa Era do Jazz. Estudei uma única história que foi encenada por colegas de turma e foi o suficiente para que eu lesse depois todos os contos e poemas dela que encontrei. E depois, nunca mais a li… Pode? Mistérios literários… O meu interesse posteriormente voltou-se para a Literatura Inglesa. Então, conheci Virgínia Woolf, fiz também meu “Passeio ao Farol” e acompanhei a trajetória da “Mrs. Dalloway”, inclusive através de filme. Assisti mais de uma vez ao drama da controversa personagem interpretada em 1997 pela grande dama da dramaturgia inglesa, Vanessa Redgrave. Conheci ainda a ironia fina de Jane Austen em “Orgulho e Preconceito” que jamais pensei que me marcaria tanto. Daí então, conferi com alegria as versões feitas para a TV (1995) e para o cinema (2005). A primeira foi uma minissérie de grande sucesso produzida pela BBC que marcou a carreira do ator-gato Colin Firth como Mr. Darcy e a segunda uma adaptação cinematográfica que destacou Keira Knightley como Elizabeth Bennet. E ainda conheci outras de suas obras através da sétima arte como “Razão e Sensibilidade” (1995) com as excelentes atrizes Emma Thompson e Kate Winslet e mais “Emma” (1996) com Gwyneth Paltrow. Estas recatadas histórias de romance integravam a “biblioteca para moças” de mil novecentos e antigamente e foram transplantadas para as telas de TV e cinema em nossos nada comportados tempos modernos para encantar plateias no mundo inteiro.

Voltando aos livros, recordo-me de que foram inúmeros os agradáveis momentos que passei entre as páginas com textos em verso ou prosa, sempre em busca de frases inesquecíveis, histórias marcantes e/ou estilos envolventes de escrever. Neste clima, minha memória viaja agora para os corredores da biblioteca da faculdade onde eu costumava passear, observar as prateleiras das estantes e maravilhar-me com o fato de poder parar diante de muitas das mais importantes obras literárias já escritas em línguas portuguesa e inglesa. Então, eu olhava e folheava um livro e outro até eu escolher mais um autor e, principalmente, autora que poderia fazer diferença em minha vida. Assim descobri Katherine Mansfield, uma neozelandesa versátil, que se destacou no início do século XX e é considerada uma das melhores contistas da língua inglesa. Eu passava horas entretida com suas belas histórias sem me cansar. E depois procurava saber sobre sua vida e obra cada vez mais. Sempre me lembro de seus textos com muito, muito carinho. Até hoje. Outra que só conheci anos mais tarde e que também não saiu mais da minha predileção foi a inglesa Beatrix Potter, autora/ilustradora de livros infantis e criadora do personagem Peter Rabbit, um coelhinho arteiro que já tem mais de um século e continua a fascinar as crianças e até mulheres adultas como eu. Quem estiver interessado em saber mais sobre a biografia desta escritora de sensibilidade ímpar pode assistir ao filme de título “Miss Potter” (2006) com René Zellweger no papel da Beatrix. Eu recomendo.

Depois dessa seção nostalgia, volto a 2014 e digo que ainda gosto muitíssimo de descobrir novos autores e, é claro, eu continuo a vibrar quando encontro textos de mulheres com que posso identificar-me, inspirar-me ou simplesmente divertir-me. Continuo a perseguir a saga da atrapalhada Bridget Jones, criada pela inglesa Helen Fielding, tanto nos livros como em suas versões cinematográficas, e é sempre um prazer poder ler as crônicas da autoria da “desencanada” e moderníssima Martha Medeiros. E não deixo também de acompanhar as colegas blogueiras, que compartilham os seus talentos e posições com um número impensável de internautas, estes navegantes virtuais que são uma das marcas registradas do século XXI. Assim, navego e desbravo o oceano da “Alma Feminina” de Anna Gabriela Malta e confiro o diário de bordo “Para Inglês Ver” escrito quase que integralmente por jovens moças estudantes de Oxford, que relatam suas experiências – por vezes inusitadas – e aventuras em nosso país pelo site da BBC Brasil.

Ao recordar os nomes e obras de tantas mulheres audaciosas, que não temeram ou não temem expor seus sentimentos e ideias através do implacável registro da linguagem escrita, só me animo a seguir o exemplo. Pois cada palavra, cada linha, cada parágrafo é um grande desafio até o acabamento final do novo texto. Portanto, convido outras mulheres ao desafio: Vamos continuar com a feliz audácia de procurar escrever ainda melhor! Este convite me soa tão bem que o faço extensivo aos homens. Mas hoje, para mim, escrever sobre as mulheres que tiveram/têm o empenho de se dedicar às letras é mesmo a melhor das homenagens. Que o Dia Internacional da Mulher seja lembrado também por esta conquista para que a intrépida e inesgotável escrita feminina seja igualmente incessante e continue a florescer em toda a sua essência, audácia e, sobretudo, perícia.


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