Foto da seleção alemã de futebol - campeã da Copa do Mundo 2014

SELEÇÃO ALEMÃ: A DETERMINADA PREPARAÇÃO PARA A VITÓRIA

Com o fim da cobiçada Copa do Mundo de 2014, aqui no país do futebol, agora é a hora para os especialistas na área avaliarem tudo que funcionou – e o que não funcionou – para que o Brasil possa colher lições e correr atrás do tão sonhado hexacampeonato mundial. Eu, na condição de torcedora, dou meus palpites também e prefiro voltar o meu olhar para a seleção que impressionou na Copa, esbanjou bom futebol e ganhou o título merecidamente: a poderosa seleção alemã. E por trás do sucesso de conquistar a “Copa das Copas” no Maracanã sobre a forte Argentina de Lionel Messi, havia uma preparação exemplar de quem não teve vergonha de inovar quando preciso e investir numa audaciosa combinação de pontos positivos, aproveitando o que já existia em seu futebol com o que aprendeu de outros exemplos. E eu, curiosa como sempre, não sosseguei enquanto não fui conferir a receita dessa vitória. Vamos a ela!

Desde o início das reportagens, gostei de saber que os alemães tinham escolhido Santa Cruz Cabrália, onde nasceu oficialmente o Brasil, para se instalar e logo de cara construíram um centro de treinamento no local para a equipe ambientar-se com o clima e o fuso horário brasileiros. Entretanto, o que ninguém cogitava antes da Copa é que os alemães tanto se encantariam com os brasileiros como (n)os encantariam também. Quem não gostou de ver o Klose, agora o maior artilheiro de todos os mundiais, comemorar o aniversário dançando junto com índios pataxós? Ou de sentir a energia do Podolski que, entre várias demonstrações de carinho com a torcida brasileira, tirou fotos com um pequeno curumim, postou mensagens no Twitter elogiando o Brasil e após a partida final declarou: “Amo este país e este povo, e foi uma escolha perfeita da FIFA ter trazido este mundial para cá”?  Os alemães, como um todo, não pararam de elogiar a hospitalidade brasileira e de se confraternizar com os fãs. Passearam pela praia, andaram de jet ski no litoral baiano e… treinaram firme. Fizeram, inclusive, treinos às 13h porque sabiam que teriam de jogar neste inglório horário. Mantiveram uma rigorosa disciplina de treinamento combinada com lazer. Sábios alemães.

Em campo, todo mundo viu o resultado. Numa inspiradíssima estreia, golearam por 4 x 0 os portugueses, com Cristiano Ronaldo & Cia. jogando. Nesta partida, os alemães deram uma aula de futebol, mostrando um time entrosado com maior posse de bola, troca de passes precisos e pontaria certeira no gol. Depois passaram aquele sufoco no jogo de 2 x 2 contra Gana. Aí o mérito maior foi do técnico, Joachim Löw, que soube fazer as substituições certas na hora certa. Quando a Alemanha perdia o jogo por 2 x 1 no 2º tempo, colocou os craques Schweinsteiger e Klose que mudaram a cara do time e redefiniram o destino do jogo, arrancando o empate. Depois, bateram os EUA por 1 x 0 e seguiram adiante, ganharam a Argélia só na prorrogação (2 x1) depois de um árduo 0 x 0 no tempo normal e passaram apertadinhos pela França com 1 x 0. No entanto, quando parecia que a Alemanha não iria mais vencer ninguém de goleada na Copa, massacrou logo o nosso Brasil de 7 x 1 e, na finalíssima, arrebatou a taça da Argentina nos minutos finais da prorrogação com o golaço do Mario Götze (1 x 0). Foi também um jogaço de bola em que eu não conseguia tirar os olhos da TV e fiquei felicíssima quando vi os alemães conquistarem o tetra sobre a nossa arquirrival e ainda mais com tanta categoria. O estilo de futebol coletivo, em que não havia “fominhas”, mas jogadores empenhados em apresentar um espetáculo de qualidade com a participação de toda a equipe para alcançar as vitórias, certamente conquistou fãs do mundo inteiro.

Fiquei admirada de saber que toda esta trajetória de sucesso começou a partir de um grande fracasso. Foi após a Eurocopa de 2000, em que a Alemanha saiu desclassificada na 1ª fase sem vitórias, que uma intensa reforma no futebol alemão começou. A partir de então, os dirigentes passaram a apostar, sobretudo, nos jogadores de base. E nesta Copa, como vimos, souberam mesclar na dose exata os veteranos como Klose (36 anos), Lahm, Schweinsteiger e Podolski (29 anos) com os novatos Schürle (23) e Götze (22), agora conhecido também como “Super Mario”, apenas para citar alguns nomes. E houve também como fruto a revitalização do Campeonato Nacional, tanto que a grande maioria dos jogadores da atual seleção pertence a clubes alemães, sendo que seis titulares atuam no Bayern de Munique. Lembrei-me muito das minhas aulas de Programação Neurolinguística (PNL) onde sempre se dizia que não existiam “fracassos”, mas apenas “erros e acertos”. E que tínhamos de ver os erros como forma de aprendizagem e daí criar novas estratégias para alcançar as metas desejadas. Caso houvesse fortes interferências no percurso, deveríamos mudar a estratégia de acordo com o contexto, usando um Plano B. O mais importante era decidir e acreditar que conseguiríamos a vitória. E tudo isso vi na prática através do desempenho da seleção alemã que, de tão decidida, cresceu mais a partir da reta final.

Se os jogadores alemães surpreenderam positivamente muitos brasileiros nesta Copa, digo que o meu encantamento por eles já vem de longe, desde os meus tempos de adolescente.  Confesso que além do bom futebol, achava os jogadores tão lindos que quando se falava em transmissão de partida da Alemanha, eu fazia o possível para não perder nenhuma. Ficava mesmo embevecida com a beleza do jogo e dos jogadores daquele país. E agora não foi diferente. Só que agora, vejo que tanto o futebol dos alemães quanto o padrão de beleza estão mais diversificados e atraentes… Analisando apenas o futebol, o estilo moderno alia as conhecidas características de força física, alta competitividade, potencial ofensivo, disciplina tática, controle emocional e pontaria precisa com toque de bola refinado, maior qualidade técnica, coordenada troca de passes, assim como muita simpatia e apetite de campeão. Parece-me uma combinação irresistível, não acham?

Como acredito também na força da modelagem, para usar mais um termo da PNL, a seleção brasileira poderia, a partir do modelo alemão, desenvolver mais a preparação física, o equilíbrio emocional e a disciplina tática, além de investir em jogadores de base e jogar mais coletivamente. É claro que poderíamos unir essas qualidades com o talento individual, a criatividade e a formação de craques para dar continuidade ao famoso “futebol-arte” como faz o Neymar, nosso expoente maior no momento.

Outras Copas virão e, se Deus quiser, ainda assistirei a várias. Mas, esta Copa no Brasil perdurará na minha memória por inúmeros motivos. Vi de perto a confraternização das torcidas, a “invasão argentina” no Rio de Janeiro, sobretudo na Praia de Copacabana, assisti a muitos jogos emocionantes na TV, inclusive, na Fan Fest, comprei souvenirs na loja oficial da FIFA e até aproveitei para conversar um pouco e tirar fotos com costarriquenhos, mexicanos, australianos e alemães. Vi uma Copa eletrizante, com muitos gols e alegria. Assisti ao vexame histórico do Brasil e ao progresso de muitas seleções como a da notável Costa Rica, que era considerada como provável saco de pancadas e saiu nas quartas de final invicta e com a defesa menos vazada da Copa. Porém, marcante mesmo foi ver esta seleção da Alemanha que soube jogar como campeã desde o início e ainda assim demonstrou humildade nas declarações, amabilidade com os brasileiros e respeito aos adversários. A Alemanha, portanto, portou-se de forma espetacular dentro e fora de campo. Assim, não tenho dúvidas ou reservas em afirmar: Alemanha é, com toda a categoria, a Campeã Ideal!


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