Mosaico com fotos da Faculdade de Letras - UFRJ

FACULDADE DE LETRAS: REENCONTROS E RELEITURAS

Quando assisti a “Para o Resto de Nossas Vidas”, com os atores britânicos Kenneth Branagh e Emma Thompson em 1992, sobre colegas de faculdade que se reencontrariam depois de anos para passar juntos um Reveillón, nem imaginava que mais de 20 anos depois, eu participaria de um encontro semelhante. Mas, para alívio geral, sem conflitos ou revelações desconcertantes. Na véspera do Reveillón de 2014, pude rever vários colegas da turma de Português-Inglês da UFRJ de 1986 e, ao contrário do filme, o nosso episódio foi aristotelicamente linear em termos de alegria, pois não incluiu reviravoltas no enredo e foi feliz no início, meio e fim. Aconteceu, na verdade, um festival de lembranças compartilhadas e biografias atualizadas como eu nunca havia pensado. E se tiramos muitas fotos para registrar o evento histórico, desde então minha memória não parou mais de montar meu álbum pessoal.

Lembro-me bem dos meus tempos de caloura em que eu andava pela Cidade Universitária cheia de entusiasmo. Eu lia, estudava e me deleitava intensamente com o universo da língua e da literatura. Meu bom-humor era tanto que, naquele primeiro ano, consegui fazer mais amizades do que em todo o tempo de colégio. Passeava pelas dependências da Faculdade de Letras e logo a biblioteca se tornaria meu recanto predileto. Lá eu descortinava um mundo de conhecimento, em que me recolhia e nutria minhas fantasias literárias… Logo também ouvi falar do “beijódromo”, que nada mais era que uma pracinha situada após a entrada da Letras, e do 3º andar (Pós-Graduação) onde os casais podiam ficar se beijando sossegadamente e ainda apreciar a paisagem natural da Ilha do Fundão. Depois de ter usufruído de ambos, asseguro que o último era, sem dúvida, a melhor opção.

Nos primeiros períodos, quando as aulas começavam às 7h30min da manhã, eu acordava cedinho para enfrentar a quilométrica fila do ônibus 696, também conhecido como meia – 1 hora e meia, pela sua demasiada demora para chegar à Universidade. Entretanto, a fila tinha suas compensações, pois era quase toda formada por estudantes da UFRJ e assim eu podia conhecer mais gente de outras turmas, bem como ver alguns colegas da minha também, quase que marcando um encontro matinal diário.

E, falando de colegas, as primeiras que conheci tornaram-se depois duas das mais queridas amigas com quem convivi naquele período. A primeira foi a Adriana, a lourinha, que tinha uma incrível capacidade de aprendizagem; a boa aluna mais cabeça-fresca que já conheci. Enquanto a grande maioria da turma ficava superestressada com a proximidade das provas, ela decidia na boa passar um mês na Espanha ou então passear, descansar, namorar e quando estava em cima do dia da prova, às vezes até da hora, tirava xerox dos meus cadernos e conseguia tirar quase as mesmas notas que eu! Cá entre nós, a Adriana sabia mesmo aproveitar a vida… Além de amiga, tornei-me sua fã incondicional. A segunda era a Cláudia, de personalidade calma, meiga e sensível. Tinha um jeitinho doce, muito responsável, de moça que começara a trabalhar desde cedo e assim como eu era louca por gatos. Depois, juntaram-se outras amigas ao nosso grupo como a Lúcia Godoy*, que não era cantora, mas nem por isso deixava de ser lírica. Mostrava-se sempre tranquila, cordial e confiável. Estávamos todas quase sempre juntas e compartilhávamos as novidades com aquela euforia típica da juventude.

Sem procurar exclusividade, unia-me a outros grupos também. Depois do meu grupinho original o segundo colocado era, decerto, o trio formado por Valéria, Simone e Fernanda. Muitas vezes eu voltava das aulas conversando com o trio no carro da Fernanda quando eu conseguia uma carona. E aí, desfrutava de bons momentos, trocando ideias com aquelas personalidades tão diferentes entre si.

Valéria era a colega animada, comunicativa e guerreira, que também ganhou fama como a grande dançarina de lambada da turma. Taí uma imagem que gravei bem da jovem Valérie (leia-se Valerri): dançando lambada ao som do Kaoma. Alguém ainda se lembra desse conjunto musical? Valéria foi, entre todas, a única que passei a encontrar quase todos os anos depois de nossa formatura. Já a Simone tinha todo o jeito de aluna esforçada, com seu modo simples e superagradável de ser que eu muito admirava. E Fernanda tinha personalidade forte, determinada, que revelava ainda um lado bem-humorado. Inclusive teve o mérito de protagonizar um dos chás-de-panela mais divertidos de que já participei.

Como veem, uma única crônica seria insuficiente para descrever todas as imagens que guardo no meu álbum de memórias. Cada colega traz-me lembranças distintas, não só de risos e histórias relaxantes, é verdade. Houve também discussões e distanciamentos, como em qualquer grupo social. Porém, fazendo uma releitura da época, contabilizo muitos mais momentos positivos do que quaisquer outros. Participamos todos de tantos testes, provas, reuniões, trabalhos de grupo, peças teatrais, aulas, palestras, e 1001 outras atividades que até o stress que sofríamos com isso tudo (que não era pouco) não seria fator suficiente para sobrepor os nossos objetivos. Pelo menos, não para a maioria de nós. Mal tínhamos começado a faculdade e estávamos quase todos lecionando, portanto exercendo as funções de aluno e professor ao mesmo tempo. Estudamos, trabalhamos, ralamos e perseveramos até conquistar nossos diplomas. Lembro-me sempre da Elaine, que aos 20 anos foi a nossa mascote entre os graduandos! Hoje, fico feliz de ver todos, simplesmente todos, bem-sucedidos com suas opções profissionais. Grande turma!

O nosso reencontro, como tem acontecido nos tempos modernos, começou pela Internet. Valéria fez o convite a alguns amigos em uma conversa de grupo pelo Facebook; daí um adicionava o outro e com pouco tempo a conversa coletiva já envolvia mais de 30 pessoas e cerca de 1000 mensagens! Mas, sensacional também foi montar o quebra-cabeça das nossas lembranças, em que não faltaram comentários do tipo entre os mais desmemoriados: “Devo estar com Alzheimer. Preciso de um geriatra urgente…”, “…pensei que só eu estivesse precisando de um geriatra antes de completar 50…”, “…nem fazendo terapia de vidas passadas conseguirei lembrar do que esse povo está falando,” e por aí vai. Para os que, como eu, gravaram muitos arquivos da Faculdade em seus HDs mentais, foi uma oportunidade e tanto para compartilhar com os colegas saborosos links dos anos 80/90.

Aproveito, portanto, para agradecer nominalmente a quem pôde comparecer a este inesquecível encontro no Rio’s Gourmet do Méier (RJ). Obrigada Valéria, Simone, Elaine, Monique, Patricia, Márcio, Aldenir, Paula e família, Luíza, Magali e Cláudia Farias! Valeu mesmo! E desejo que a partir desse evento, a animação continue a contagiar-nos e cresça ainda mais o futuro número de participantes. Afinal de contas, já conseguimos localizar até quem não faz parte das redes sociais e o meu álbum tem que continuar… E ao recordar-me que uma das músicas da trilha-sonora da minha formatura foi um tema do filme “Em Algum Lugar do Passado” (1980), sinto que este encontro mostrou, melhor do que em qualquer obra de ficção, que o carinho dos colegas de turma não foi algo que se encerrou em nossas formaturas ou ficou perdido em algum lugar do passado, mas está mais do que presente, vivo e verdadeiro em cada um de nós.

Obs.: Lúcia é parente distante da cantora lírica Maria Lúcia Godoy.

 


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