Imagem de Madre Paulina diante de uma criança

MADRE PAULINA – UMA SANTA EM TERRAS BRASILEIRAS

Saber que há santos reconhecidos pela Igreja que viveram em nosso país é, sem dúvida, um motivo de grande alegria para todos os católicos do Brasil. Uma alegria que se torna ainda maior quando temos o prazer de conhecer um pouco de suas histórias. E celebramos no dia 9 de julho a primeira santa que viveu sua missão com toda a plenitude em território nacional: Santa Paulina.

A primeira vez que ouvi sua história foi por ocasião de sua beatificação em 1991 quando assisti a um documentário dramatizado na extinta TV Manchete e afirmo: foi amor à primeira vista. A atriz Nina de Pádua interpretou Madre Paulina com muita segurança e, desde então, a trajetória desta mulher extraordinária ficou sempre em minha mente. Decidi, então, que ainda conheceria sua história com mais detalhes. Com esta convicção, há alguns anos, procurei o que havia de disponível no mercado sobre ela nas livrarias católicas e tive agradáveis surpresas. Encontrei duas biografias “Madre Paulina – caminho da luz” de Diogo Fuitem e Fidel Garcia Rodriguez, pequenina, mas muito bem-escrita e “Madre Paulina – Entre Carisma e Obediência” do autor italiano Guido Lorenzi, muito mais recheada. Posteriormente, li as duas e encantei-me ao conhecer ainda mais sobre a vida de uma mulher que viveu para amar e servir a Deus e ao próximo. E o melhor é saber que toda a sua obra de santidade foi, de fato, desenvolvida em terras brasileiras.

Nascida na Itália em 1865, Amábile (que quer dizer amável) Lúcia Visintainer veio para o Brasil em 1875 com sua família e muitos outros italianos. Os imigrantes estabeleceram-se em Santa Catarina; logo fundaram pequenos povoados e rebatizaram a localidade de Alferes como Nova Trento. Nessa região floresceu a vocação religiosa da menina Amábile, que ajudava nos serviços domésticos e na lavoura. Ainda mocinha, com sua grande amiga, Virgínia Nicolodi, ela recebeu do padre local as honrosas tarefas de cuidar da Capela de São Jorge – que anos mais tarde se tornaria o Santuário de N. Srª de Lourdes – de tratar de enfermos e de ministrar a catequese para as crianças. Aos 25 anos, Amábile criou com Virgínia um hospital, ainda que minúsculo, mas dando início a sua fértil obra. Era 1890 e a jovem tinha sonhos reveladores com N. Srª de Lourdes, como aquele em que a Virgem, de uma escada de nuvens, lhe dizia: “Eis as filhas que te confio”, mostrando-lhe meninas vestidas de branco que, entre árvores com cachos de uvas já maduras, passavam correndo e brincando em plena felicidade. Ela entendeu seu chamado vocacional, pois viu que teria muitas moças sob sua responsabilidade para encaminhar a uma vida totalmente dedicada à fé e às boas obras. E isso foi motivo de alegria em seu coração.

O ano de 1890 também marcou a data de fundação da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Este foi o primeiro Instituto Religioso criado no Brasil, ainda trazendo o pioneirismo de ter uma mulher como fundadora, a destemida Amábile. Em 1895, ela fez com Virgínia e outra amiga, Teresa Anna Mauler, os seus votos religiosos adotando o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Para a sobrevivência da Congregação, as Irmãs cultivavam alimentos, linho, algodão, criavam bichos-da-seda, confeccionavam velas, flores, teciam e recebiam doações. Deste modo, conseguiram criar uma fábrica de seda, hospitais, escolas para meninas e ainda assistiam órfãos e pessoas idosas, vivendo sempre à base de muito trabalho e oração. Em 1903, a então Madre Paulina foi eleita como Superiora Geral da Congregação.

No mesmo ano, ela foi transferida para São Paulo/SP a fim de expandir sua obra. Lá passou a cuidar de ex-escravos e órfãos de famílias negras, além de fundar outras unidades, como a Casa Geral da Congregação. Sua fé, humildade e conduta eram exemplares, mas como a perseguição faz parte do histórico de todo bom cristão, a Madre sofreu calúnias de uma rica benfeitora da instituição, Ana Brottero. Então, o Arcebispo local Dom Duarte destituiu Madre Paulina do cargo de Superiora em 1909 e enviou-a para a Santa Casa de Misericórdia em Bragança Paulista. Nessa cidade, a religiosa passou a trabalhar com os doentes e também nas áreas da cozinha, limpeza e lavanderia. Contudo, ela foi logo chamada para trabalhar em outra casa na cidade, o Asilo de São Vicente de Paulo, onde serviria de 1910 a 1918, em meio a muita pobreza. Madre Paulina foi finalmente convidada a retornar à Casa Geral em São Paulo e, em 1933, recebeu com alegria um Decreto de Louvor do Papa Pio XI, vendo sua obra bastante ampliada ter o devido reconhecimento. A Madre ainda viveu, nos últimos anos de vida, já diabética, o martírio da amputação do braço direito e da cegueira, mas sempre manteve firme sua fé. Morreu em 09/07/1942, aos 76 anos, deixando um legado inestimável ao Brasil. Hoje em dia sua Congregação se faz presente em nada menos que 16 estados e em 10 diferentes países.

Com o reconhecimento de dois milagres realizados através da intercessão da religiosa, o Papa João Paulo II (agora também santo) canonizou a querida Madre como Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus em 19/05/2002. Uma linda história que não tem prazo para ter fim. Em 2006, a TV Século 21 produziu o excelente filme/documentário “Madre Paulina” que foi agraciado com o prêmio Clara de Assis naquele mesmo ano e lançado posteriormente em DVD. A narrativa, inclusive, conta com emocionados depoimentos das pessoas que vivenciaram ou foram testemunhas dos milagres reconhecidos, além de entrevistas com irmãs e benfeitores que dão continuidade a sua obra.  Hoje podemos encontrar em Nova Trento/SC o grande Santuário Santa Paulina, erguido também em 2006, que recebe milhares de visitantes por ano. O próximo projeto será realizado na cidade de Imbituba em Santa Catarina com a construção de um monumento de 46,5m de altura! Sua história realmente emociona e, para mim, considero mais do que justas todas as homenagens prestadas à Santa Paulina, que sempre viveu como uma obediente, devotada, corajosa e incansável serva de Deus.