Já andava nostálgica em termos musicais nos últimos tempos. E agora tenho mais 100 motivos para continuar assim… Tudo porque, neste ano, o mundo celebra o centenário de nascimento de um dos maiores artistas da música e do cinema do século XX e também de todos os tempos: o meu querido Frank Sinatra (1915-1998). E o Rio de Janeiro, claro, não poderia ficar de fora do roteiro mundial de comemorações. Entre os eventos mais badalados, houve recentemente um musical, “100 Anos de Frank Sinatra”, os shows “Bibi Ferreira e Orquestra Canta Repertório Sinatra”, “Salute to Sinatra – Louis Hoover & The Hollywood Orchestra” e a exposição “Frank Sinatra – A Voz no Cinema”. E diante da série de homenagens, animei-me a participar do que pude e recordar o quanto as canções e os filmes de Frank fizeram e ainda fazem parte da minha vida.
A primeira vez que tive contato direto com sua música, foi através do antológico show de 1980 que lotou o Maracanã, com mais de 170 mil pessoas, encantando o público carioca. Assisti ao especial exibido pela TV Globo e, embora eu fosse criança ainda, lembro-me de ter gostado muito. Mas a paixão mesmo veio muito depois, no início dos anos 1990, quando eu estava em uma confraternização entre minhas colegas de trabalho. Como boas professoras de inglês, apreciávamos a música bem cantada naquele idioma e a certo ponto, a anfitriã disse que tocaria dois CDs dos seus cantores prediletos: Nat King Cole e Frank Sinatra. Depois que acabei de ouvi-los, meus ouvidos agradeceram e a partir daquele dia o meu gosto musical estaria mudado para sempre. Passei dias com as músicas dos dois na cabeça e corri para as lojas para adquirir os CDs iguaizinhos aos da minha colega. Felizmente, encontrei o “New York, New York – Frank Sinatra – His Greatest Hits” e a coletânea do Nat. Mas, quando eu ouvia o Frank não me dava vontade mais de parar de conhecê-lo. Assim, toda vez eu que avistava as Lojas Americanas, a Gabriella Discos ou qualquer uma do gênero, entrava em busca de CDs dele e, deste modo, a minha coleção começou a tomar uma proporção além das minhas previsões. Por consequência, tive que adaptar minhas prateleiras àquela nova realidade.
Fascinavam-me aquelas canções românticas, no ritmo do jazz, blues, pop e até bossa nova, com toda aquela classe e swing de interpretação que só o Frank tinha e ninguém mais. Ouvindo sua voz maravilhosa e pronúncia perfeita, eu me perdia naquelas melodias e letras que falavam de romance com imagens poéticas como “fonte de desejos,” “jardim na chuva”, “lírios na primavera,” “outono em Nova York”, “abril em Paris.” E a jovem Débora não parava de sonhar… As canções me absorviam e eu imaginava o enredo daqueles encontros amorosos em cada cenário onde a beleza e o lirismo predominavam. E independente do enredo enfocar uma história triste ou feliz, tudo parecia mais belo e com mais sentimento ao som de “The Voice” (“A Voz”).
Com o tempo, vim a saber que ao longo de sua carreira, Sinatra gravou excelentes compositores da música americana como Cole Porter, Irving Berlin, Kern, Cahn, Vahn Heusen, Rodgers, Hart, Hammerstein, Gershwin e até de outros países como o nosso grande Antônio Carlos Jobim. Gravou com orquestras do porte de Harry James, Tommy Dorsey, Count Basie, Don Costa, entre outras, lembrando que muitos de seus hits contaram com os arranjos do famoso maestro Nelson Riddle. Isso é que é currículo! E o que dizer dos duetos fantásticos, com Elvis Presley, Ella Fitzgerald, Bing Crosby, Dean Martin, o já citado Tom Jobim? Olha, que isso é apenas um pequeno resumo… Houve até o Duets (1993), o primeiro álbum na História com duetos gravados inteiramente em estúdios separados e depois reunidos por montagem eletrônica. O CD alcançou a marca de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos e chegou ao 2º lugar no Hit Parade. E no ano seguinte, Sinatra lançou o “Duets II”, e só nos EUA chegou a 1 milhão de CDs vendidos. Tudo isso eu acompanhava com o maior interesse e satisfação sem imaginar que este seria o último disco do Frank gravado em estúdio…
Se a princípio me encantei com suas músicas, depois eu me surpreenderia com sua carreira no cinema. Recordo que o primeiro filme que gravei em vídeo cassete (alguém ainda tem um?) foi “Meus Dois Carinhos” (1957), com as lindas atrizes Rita Hayworth e Kim Novak, em que Frank interpretou a antológica “The Lady is a Tramp”. Aliás, por conta dessa gravação, meu vídeo cassete que mal estreou, não parava de trabalhar. Acho que meu pai assistiu a esse filme umas 5 vezes naquela semana por conta da Kim Novak, a sua musa cinematográfica, e passou a mostrar cenas dela a todos que iam lá em casa. Pelo menos, com isso, acabavam prestigiando o Frank também. Depois, eu viria a assistir a ótimos musicais em que ele cantava e dançava com Gene Kelly, “Marujos do Amor” (1945), “Um Dia em Nova York” (1949) e a “Bela Ditadora” (1949). Amei também o “Alta Sociedade” (1956) com Louis Armstrong, Bing Crosby e a futura princesa Grace Kelly. E o que dizer de “A Um Passo da Eternidade” (1953), em que Frank ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante sem cantar? Aliás, foi o que eu descobri: Frank Sinatra era também um excelente ator.
A classe, a elegância e o charme de Frank só poderiam ter feito dele, inclusive, um sucesso na TV. Chegou a apresentar “The Frank Sinatra Show” na década de 50 e na era da TV em cores fez uma série de especiais começando por “A Man and His Music” (Um Homem e Sua Música) em 1965, vencedor do prêmio Emmy, o maior da TV americana. Com o tempo, fui à caça desse material televisivo em DVD e confesso: comprei todos os que encontrei. O último comprei no mês passado. Afinal, a minha Sinatramania tem que continuar…
E foi nesse clima de festa por conta dos seus 100 anos, é que fiz questão de prestigiar com uma colega de trabalho o show do inglês Louis Hoover acompanhado da Hollywood Orchestra. Foi um espetáculo de esplendor! Pode soar exagerado, mas o show me arrebatou do início ao fim. Tendo como cenário o belíssimo Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, a voz potente de Louis se destacava ao lado da afinada orquestra e juntas proporcionaram à plateia momentos, de fato, memoráveis. O cantor bonito, simpático e charmoso fez com que a música de Frank penetrasse e permanecesse em meus ouvidos e mente por longo tempo… Eu me emocionei (e me arrepiei também) ao ouvir “Night and Day”, “Strangers in the Night”, “All The Way”, “The Girl From Ipanema”, a “Aquarela do Brasil” cantada em inglês com arranjos sensacionais de jazz e muito mais! Nunca pensei que eu teria a oportunidade de assistir a um show composto somente do repertório do Frank Sinatra. Sei que não era o Frank, mas Louis personificou todo o seu estilo no palco, superelegante, cantando maravilhosamente bem e falando ao público com pitadas de humor. O show durou mais ou menos duas horas e me fez sair de lá extasiada… Parabéns, Louis, pela justa homenagem!
Embalada por esta onda de celebrações, tudo o que eu queria era Frank, Frank, e mais Frank. Assim que pude, fui direto para o Museu de Arte Moderna (MAM), situado em meio a beleza paisagística do Aterro do Flamengo. Lá é acontecia a exposição “Frank Sinatra – A Voz do Cinema”, a que me referi no início do texto. Havia pôsteres originais de filmes marcantes da carreira de Frank, entre eles os dramas “A Um Passo da Eternidade” (1953), “O Homem do Braço de Ouro” (1955), “Onze Homens e Um Segredo” (1960), “O Expresso de Von Ryan” (1965), “Tony Rome” (1967), os musicais “Um Dia em Nova York” (1949), “Eles e Elas” (1955), “Chorei por você” (1957); aí a minha memória começa a pegar… Havia mais cartazes, é claro, e para o deleite dos fãs, ingressos de shows, inclusive, o do Maracanã, partituras, fotos, um boneco igualzinho ao Frank, e até itens como uma garrafa de Jack Daniel’s, lançada com o nome de Sinatra Select, por ser a sua marca de whisky predileta. Não poderia faltar ainda a exibição diária de filmes. Quem pôde ir, tenho certeza de que não se arrependeu. E para coroar o dia da minha visita, saí de lá com um lindo catálogo elaborado especialmente para celebrar os 100 anos do Frank. Voltei para casa com sorriso de orelha a orelha!
A festividade do centenário do Frank Sinatra inclui vários lançamentos e homenagens ao redor do mundo. Com este texto, faço também o meu tributo particular, mas vou parar por aqui. Pois, se me deixarem à vontade, continuo a escrever sobre o Frank mais do que os meus caros leitores poderiam suportar… Só digo que é verdade mesmo que me arrepio ao ouvir músicas como “New York, New York”, “Let Me Try Again”, “My Way” ou “Fly Me To The Moon.” Aliás, ao ouvir esta canção, posso dizer que embarco em uma viagem musical ao som desses versos: “Fly Me To The Moon (Leve-me para a Lua)/Let Me Play Among The Stars (Deixe-me brincar entre as estrelas)”… e se não chego a sentir-me na lua propriamente dita, sinto-me como se estivesse descortinando as nuvens, elevada ao mundo maravilhoso do amor romântico. Parece delírio, não? Mas, para quem é fã, sabe que o delírio é parte integrante da tietagem e não pode ser sentido separadamente… Portanto, convido a todos a conhecer um pouco mais este artista fenomenal e torcer para que sua música continue a tocar enquanto um fonograma existir. E quanto a mim, pretendo arranjar mais 100 motivos para comemorar o inesquecível Frank Sinatra!
Participe! Deixe seu comentário