Outro dia, eu comecei a ler os posts no Feed de Notícias do Facebook e me deparei com várias frases que falavam de amizade e um pensamento em particular me chamou a atenção: “Dizem que amigos verdadeiros ficam longos períodos sem se falar e nunca questionam a amizade. Repassem se você tem pelo menos um desses amigos.” A partir daí, o assunto não me saiu mais da cabeça. Resolvi, então, pesquisar pela Internet e descobri que o pensamento foi adaptado do colunista Vargas Tellado. Ainda encontrei inúmeras frases sobre o tema tais como “A amizade é um amor que nunca morre” (Mário Quintana) ou “A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas” (Francis Bacon), e apesar da qualidade do conteúdo apresentado por estes e outros poetas e filósofos, uma das frases de que mais gostei desconheço a autoria: “A parceria é forte, a curtição é louca e a amizade é eterna.” Pensamento direto, original e bem ao estilo do século XXI. E me pus a pensar sobre a veracidade dessas afirmações e no papel de destaque que a amizade sempre teve em toda a minha vida.
Comecei a refletir… afinal, as pessoas continuam a acreditar em amigos verdadeiros, mesmo distantes, sem questionar o relacionamento? A responsável pela postagem da frase que me inspirou a redigir este texto chama-se Cláudia, uma grande amiga de quem havia perdido o contato por anos e que só consegui achá-la através de outra Cláudia, que me informou o número do telefone da sua xará pelo Facebook, que agora mora em Resende/RJ. Cláudia para cá e Cláudia para lá, resolvi ligar então para a minha antiga amiga e conseguimos nos falar outra vez depois de uns 20 anos! Foi cerca de uma hora e meia de conversa em plena sintonia tal qual na época em que sentávamos lado a lado na sala de aula. Após uma experiência dessas, a gente sente que amizade à distância é também amizade e as redes sociais ajudam sim a (re)aproximar as pessoas, embora muitos detratores só as acusem de reforçar o isolamento. Pois agora eu e Cláudia somos amigas virtuais, estamos sempre conectadas, curtindo a página uma da outra e nem por isso nossa amizade deixa de ser real. Pude constatar, assim, o fato mais importante: a conexão da nossa afinidade, na verdade, nunca se perdeu.
O mesmo posso afirmar da minha querida prima Margareth, que conheço desde criança e de quem tenho sempre belas recordações, inclusive, do tempo em que brincávamos juntas de “batatinha-frita 1-2-3”. Já nos tempos da adolescência, ficávamos longo tempo conversando em frente ao meu prédio, no portão da casa dela ou circulando pelas ruas do seu bairro, trocando confidências e rindo na mais intensa descontração. Podíamos passar horas no bate-papo e não faltava assunto diante do repertório quase inesgotável de estripulias da Margô… Eu sempre ansiava por ouvir aquelas histórias em que a vida parecia oferecer um extenso cardápio de novidades como só ela sabia experimentar. Hoje em dia, nós nos vemos pouco, mas sempre trocamos figurinhas, ou melhor, fotos, vídeos, comentários pela Internet ou WhatsApp e toda vez que nos encontramos parece que acabamos de nos ver. A conversa e as risadas fluem no mesmo ritmo dos tempos das “confissões de adolescente” e só param na hora da volta para casa. Eu a vejo como a mesma garota extrovertida, contadora de histórias e com jeito dengoso que conheci na infância. O elo da nossa amizade me parece incontestável. Os anos passam, a realidade se transforma, o sentimento permanece…
Em “Faculdade de Letras: Reencontros e Releituras”*, já comentei do grande prazer que tive em 2014 ao rever vários colegas da minha turma de universidade e como nos reaproximamos, sobretudo, devido ao Facebook. Destaco também a Lígia, amiga dedicada, mulher cristã de muito amor a Deus, que conheço desde os tempos em que eu lecionava inglês. Há anos ela mora nos Estados Unidos e assim como os escritores do passado que se correspondiam através de cartas, ou melhor, de epístolas, presumo que nós duas nos comunicamos através do computador desde que inventaram o e-mail. Só lamento a distância geográfica que torna nossos contatos mais esparsos do que deveriam ser. Entretanto, para resumir o meu pensamento, coloco aqui outra frase da linha popular que encontrei na busca do Google: “A verdadeira amizade é aquela que o vento não leva e a distância não separa.” Aprovado e comprovado com selo de garantia ISO 9000.
Sempre considerei a amizade um dos sentimentos mais sublimes, porque também é uma forma de amor. E para mim, amor de verdade nunca morre. Aí, recordo-me das palavras do poeta Quintana. Mas, o surpreendente da vida é saber que nós podemos desenvolver um relacionamento sólido que instiga e inspira a filosofia, a arte e a vida. Na verdade, toda amizade nos arrebata quando menos nos damos conta. Uma prova disso foi o que aconteceu com as irmãs Armendarizes (pronúncia: Armendárizes). Conheci primeiro a Martha, ou Marthinha, como costumo chamá-la, em 1999: uma mulher dinâmica, determinada e perspicaz, sempre em busca do cumprimento de suas metas no campo pessoal e profissional. Dizia que era devido ao seu sangue basco… Tinha uma personalidade muito diferente da minha, porém simpatizei com ela de imediato. Começamos a conversar no trabalho e Martha passou a me dar dicas ótimas. E, daquela época para cá, já compartilhamos um mundo de histórias, segredos, decepções, alegrias, ideias, passeios, festas, viagens, projetos e não sei nem mais onde essa lista vai parar… O seu perfil encaixa-se no pensamento de Francis Bacon porque ela sempre me mostrou a necessidade de duplicar as alegrias e dividir as tristezas. E através dela, conheci o restante da sua família, por quem passei a ter uma grande afeição. Mas a Marthinha, como as minhas amigas em geral, mudou-se para bem longe… Neste caso, voltou para Lorena/SP, a sua cidade natal. Embora nós nunca deixamos de manter o contato, não havia como nos falarmos com frequência. Compreendi que era muito difícil ter alguém sempre ao meu alcance; aquela amizade de todas as horas, como se costuma dizer.
Nesse período, aproximei-me de uma de suas irmãs em especial, a Beatriz, mulher sorridente, sensível e confiável. Já a conhecia, só que a partir de então, o sentimento de amizade foi aumentando e a sua companhia passou a fazer parte integrante da minha agenda. Daí, passamos a participar de passeios culturais, conversas pelo calçadão de Copacabana, chopps à beira-mar (mesmo que quase sempre só eu que beba…), banhos de praia, shows animados, eventos festivos, folias de Carnaval ou simples visitas para pôr o papo em dia. Mas, o que solidifica a amizade mesmo são a afinidade, a admiração, o carinho e o respeito mútuo. Para nós, nada disso faltou e acredito ainda que nem faltará. Há quem duvide da existência da amizade entre mulheres e eu afirmo que elas não só existem, mas proporcionam uma experiência sem par em termos de riqueza emocional. Por isso prezo muito as minhas amizades femininas. Em muitos casos, tenho a sensação que uma sabe o que a outra sente e nem ao menos é preciso falar. Para expressar melhor esta ideia, recorro agora a outra frase moderninha: “A amizade de verdade é quando você vai na casa da pessoa e o wi-fi já conecta automaticamente.” Preciso dizer mais alguma coisa? Amo estas sacadas geniais.
Eu destaquei estas, mas ressalto que meus pais e meu irmão são também amigos demais! Um privilégio para mim. Considero ainda muito as amizades que tenho feito ao longo da vida pelos ambientes por onde passei. Já conheci muita gente boa através da minha igreja, do trabalho, da faculdade, assim como de cursos, eventos e por aí vai… Citei aqui algumas pessoas por serem amizades antigas e que passaram a ser constantes. Seria uma tarefa impossível citar todos os nomes porque cada amigo ocupa um lugar especial em mim. Muitas pessoas podem ser ou ter sido meros conhecidos ou companhias do tipo “bom enquanto durou”. Porém, quem é amigo de verdade sabe que está incluído na minha lista… Concordo que companhia de curtição pode ser louca, mas amizade é eterna…
Portanto, deixando de lado as frases da minha pesquisa, volto a uma que me tem inspirado a vida toda: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro*.” E eu o descobri, pois sempre o procurei. Hoje, tenho Jesus como meu melhor amigo, que tem me dado a graça divina de consolidar as amizades presentes e resgatar outras antigas. Também não descarto a possibilidade de haver futuras para inserir neste querido rol. O segredo de tudo é saber conquistar o outro e preservar quem foi conquistado. Tarefa dificílima, mas tão recompensadora que não desisto de investir nesta arte. Porque quando ganhamos a confiança do outro através do olhar, da palavra, da atitude e somos correspondidos a ponto de fazer parte de sua vida por anos a fio é absolutamente gratificante. A verdadeira amizade prioriza o prazer de conhecer o outro, de ouvir suas histórias e compartilhar de seus momentos sejam bons ou difíceis. Quem vive este sentimento já conhece, de fato, uma das faces do amor. Um tipo de amor onde o espaço é infinito e por isso surpreende, sensibiliza e nos faz, acima de tudo, evoluir sempre um pouco mais…
*Obs1.: Encontra-se na seção Crônicas e Textos neste site.
* Obs2.: Livro do Eclesiástico, capítulo 6, versículo 14.
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