Imagem colorida da supergirl de roupa azul e cabelos loiros voando entre predios

É UM PÁSSARO? É UM AVIÃO? NÃO… É A SUPERGIRL!

Após afirmar sucessivas vezes que eu nunca mais assistiria a um seriado de TV, alegando que nada mais me interessaria depois das 8 temporadas de “Desperate Housewives” e que a maioria das produções atuais era de baixa qualidade, tive de dobrar a língua. Rendi-me logo a duas séries: a “Call The Midwife”, produção inglesa sobre a atividade de enfermeiras/parteiras na área pobre de Londres dos anos 50/60 e agora a novíssima série americana “Supergirl” que destacarei neste texto. O canal Warner busca como fonte o universo dos quadrinhos da DC Comics e traz pela primeira vez à telinha a Supergirl como protagonista. A personagem é dinâmica, corajosa e inteligente, bastante conhecida dos fãs do Superman. Como sempre gostei de histórias com protagonistas femininas, não consigo mais parar de acompanhar essas superaventuras…

Nunca fui de apreciar super-heróis, mas quando vi pela primeira vez o Christopher Reeve com aquela roupa de Superman… comecei a abrir exceção. Inicialmente, interessei-me em assistir aos filmes do herói de Krypton para admirar a beleza do ator, depois passei a gostar do personagem de verdade. Como ainda era criança, só pude conferir os quatros filmes da saga alguns anos mais tarde. Apaixonei-me pela história de “Superman – O Filme” (1978) e então acompanhei fiel até à última sequência com o Christopher, “Superman IV – Em Busca da Paz” (1987). Na década de 1990, tornei-me ainda fã da série de TV “Lois  & Clark – As Novas Aventuras do Superman” (1993-1997) com  Teri Hatcher  e Dean Cain. A partir daí, passei a ver mais produções de cinema, TV, animação e li muitos quadrinhos históricos que enfocavam meu super-herói predileto. Numa dessas edições, descobri a Supergirl e vibrei ao ler as tiras da prima do Homem de Aço. Ela foi a primeira “menina superpoderosa” que conheci e, portanto, vejo-a como a única verdadeira. E em 2015, recebi com  surpresa e curiosidade a notícia de que, finalmente, os Estados Unidos lançariam uma série televisiva sobre a Supergirl. Tendo em vista que a personagem foi criada em 1959, já não era sem tempo…

O seriado conta com a bela Melissa Benoist no papel principal e traz histórias modernas com aventura, ação, drama e romance. Como era de se esperar, fizeram diversas mudanças na origem da personagem em relação aos quadrinhos das décadas de 1950-1960. Nas antigas HQs, por exemplo, a Supergirl chegou à Terra em um foguete já usando o uniforme  com o “S” feito por sua mãe em Krypton. Quando a jovem foi encontrada pelo Superman, a princípio foi levada por ele para morar em um orfanato com o nome de Linda Lee e depois foi adotada como filha única pelo casal Danvers. Linda ainda usava uma peruca com tranças de cor escura para disfarçar seu cabelo louro. E por várias edições da revista, ela passou a fazer um “estágio” secreto com o Superman usando seus superpoderes. Só então ela foi apresentada ao mundo como heroína pelo primo famoso. No seriado, Supergirl encontrou o Homem de Aço nas mesmas circunstâncias, só que ele a conduziu para morar direto com os Danvers. Lá a Supergirl ganhou uma irmã mais velha, passou a usar o seu nome kryptoniano Kara mais o sobrenome Danvers e conservou sua cor de cabelo louro natural. Depois de anos, ela resolveu entrar em ação por si própria e, então, elaborou o uniforme. E tudo isso aconteceu no 1º episódio acompanhando o ritmo frenético do século XXI.

Apesar das diferenças, o seriado não deixa de fazer inúmeras referências aos quadrinhos originais do Superman. A protagonista mantém o mesmo jeito tímido e atrapalhado do primo, além de usar a mesma tática de disfarce: apenas óculos e um penteado diferente quando está vivendo sua identidade terráquea de Kara Danvers.  O fotógrafo Jimmy Olsen, amigo de Clark Kent, participa da nova série despertando interesse amoroso na Supergirl…  Mas agora é interpretado por um negro (Mehcad Brooks), alto e forte, estilo galã, bem diferente do ruivo, sardento e franzino das histórias tradicionais. Lucy Lane, irmã de Lois, e o próprio Superman (ainda que só pela silhueta) já compareceram na série, sem contar que Cat Grant (Calista Flockheart), a chefe da Supergirl numa megaempresa de mídia, foi assistente de Perry White no jornal Daily Planet, onde trabalham Clark, Lois e de onde veio também o Jimmy. E um grande acerto da produção foi ter incluído Helen Slater, que estrelou “Supergirl” (1984) no cinema e Dean Cain, o Superman de “Lois & Clark” …, como os pais adotivos de Kara. Tenho certeza de que outros fãs como eu aprovaram a escolha. Há também os vilões que figuram nas HQs. Alguns deles detêm forças e poderes surpreendentes como Vartox, Reactor e Livewire. Aliás, um ponto alto do seriado é justamente o grau de dificuldade que os vilões têm imposto à Supergirl nos confrontos diretos, obrigando-a despender muito mais energia do que o Superman no seriado dos anos 90. Porém, talvez um dos adversários mais perigosos seja quem usa só o intelecto: o charmoso, sedutor e poderoso empresário da área tecnológica Maxwell Lord (Peter Facinelli), que será – ao que tudo indica – o Lex Luthor na vida da Supergirl.

Outro ponto positivo é o drama pessoal enfrentado pela heroína na busca de aprender a lidar com os seus superpoderes, emoções e a própria identidade. E ela ainda enfrenta o desafio de ter de conciliar vida sentimental, familiar e profissional como toda mulher moderna. Por isso, é cativante acompanhar o lado humano da Supergirl através da sólida amizade com a irmã mais velha, Alex Danvers (Chyler Leigh), das questões afetivas que se desenvolvem, por enquanto,  em torno de Jimmy e do colega de trabalho Winn (Jeremy Jordan), além da divisão profissional por ter que, como Supergirl,  ajudar a irmã na agência DOE que combate alienígenas e, como Kara, assessorar Cat Grant na empresa Catco. Se na DOE, ela tem que aturar o chefão Hank Henshaw (David Harewood), um alienígena disfarçado que no início desconfia e desdenha da eficiência da Supergirl, na Catco, por sua vez, tem que exercitar a paciência, quase ao infinito, com a Sra. Grant, que na categoria ambição e comentários mordazes também é super… Não há como não se solidarizar ao ver que até uma super-heroína passa por conflitos internos, enfrenta uma dupla jornada de trabalho e sofre muito stress como qualquer mortal…

A série também tem falhas; é lógico. Há, por exemplo, um ponto a questionar que é recorrente em quase todas as produções americanas: os personagens parecem indestrutíveis. E não são somente os super-heróis. As mulheres, nos filmes em geral, costumam a lutar de igual para igual com os homens, geralmente vencem, e após sofrer muita violência, saem todas maravilhosas, sem qualquer hematoma, dor ou arranhão… Em “Supergirl”, não há exceção. Foi o que vi no 6º episódio na luta que Alex travou com um cientista. Será que só eu que depois de bater numa quina de mesa fico com a área da perna dolorida e toda roxa? De qualquer modo, o roteiro dos episódios da série, o elenco consistente e a qualidade da adaptação dos quadrinhos para a tela, com o uso de ótimos efeitos especiais, supera estas fantasias modernas.

Cheguei a esta conclusão: agora não tem mais jeito e o seriado me pegou mesmo… Sei que o público-alvo da “Supergirl” é de adolescentes e jovens, mas não quero nem saber… Toda quarta-feira, 22:30h, fico de olho na Warner aguardando por mais um episódio. Ao mesmo tempo procuro ler apenas o essencial sobre o seriado para evitar os “spoilers”. Pelo menos, estou a par que o filme-piloto, exibido pela CBS em outubro de 2015, foi a 2ª maior audiência daquela noite na TV americana, com mais de 12 milhões de espectadores. Agora essa é a série mais vista entre as produções baseadas em HQs nos EUA e a 1ª temporada contará com 20 episódios para extasiar os fãs e deixá-los superligados. Depois dessa, acho que só continuo a afirmar que nunca mais volto a ver novela. Quanto à “Supergirl”, torço que seus voos atinjam níveis estratosféricos de audiência para que eu possa sentir-me também nas nuvens com suas aventuras.  Fico também na torcida que a equipe de produção da série continue a acertar a mão ao adaptar a antiga personagem, assim como os demais, à realidade moderna. E se agora algum saudosista perguntar: “É um pássaro? É um avião? Responda: Não, desta vez é a Supergirl.”

 


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