Imagem vista de cima do novo maracanã

UM TOUR PELO NOVO MARACANÃ

Se há uma coisa que realmente gosto de fazer é, de vez em quando, dar uma de turista aqui no Rio de Janeiro. Ir a um local que nunca fui e ter aquela badalada sensação de explorar o inexplorado, ainda que só eu não o tenha feito…  Também é um prazer poder passear em alguns pontos de destaque na cidade que há anos não visito e que me deixaram boas lembranças. Recentemente, tive a oportunidade de experimentar um pouco das duas sensações ao fazer uma visita guiada no que chamam agora de “Novo Maracanã”. Uma jornada num Rio cada vez mais intrigante…

Nos últimos dias de 2015, eu já havia decidido provar do gostinho de exercitar o meu turismo caseiro e fui a uma exposição fotográfica no Instituto Moreira Salles, na Gávea, “Rio: Primeiras Poses”, com 450 fotos em homenagem aos 450 anos da cidade, enfocando o período de 1840-1930. As fotos eram antigas, mas a exposição contou com todos os recursos técnicos da modernidade como vídeos, projeções computadorizadas e imagens em 3D. Tudo isso podia ser apreciado em meio ao cenário bucólico do IMS, que conta com o verde da natureza, a presença dos pássaros, as águas de um córrego e até área projetada pelo paisagista Burle Marx. O ambiente não poderia ter sido mais adequado para uma exposição tão expressiva. Portanto, nesse embalo de turista carioca, resolvi passar da nostalgia do Rio Antigo à vibração do Rio Contemporâneo. Para começar bem 2016, fui ver como ficou o Maracanã após a reforma feita para a Copa do Mundo de 2014, atendendo aos padrões internacionais da FIFA. Portanto, depois de multidões já terem entrado no estádio desde então, chegou a minha vez de calmamente conhecer a sua nova versão.

Fui de trem com meu irmão que topou o passeio e, logo ao saltar na estação, já senti o clima presente do futebol. Pintaram numa das paredes um grande painel com  jogadores em várias cores, correndo, chutando, matando a bola no peito, dando bicicleta, entre outros movimentos. E ao sair da estação, pude contemplar uma vista magnífica do Maracanã, que mais tarde seria devidamente registrada pela minha câmera. A seguir, andei pela rampa que dá acesso ao estádio, sob o sol escaldante do verão carioca, doida para chegar logo.

Lá dentro, já num clima bem mais agradável, com potentes ventiladores por todos os lados, encontrei turistas do Brasil e de outros países, sobretudo da América Latina. O guia da nossa visita se apresentou e passou a falar em português, depois em inglês – faltou o espanhol – e conduziu o grupo para conhecer coisas que eu nem imaginava que havia por lá. Havia, por exemplo, fotos e a cadeira especial onde o Papa São João Paulo II ficou durante a missa que celebrou no estádio em 1980, assim como as duas cadeiras onde se sentaram a Rainha Elizabeth e o Príncipe Phillip durante uma partida em 1968. E o restante, é claro, futebol e mais futebol. Havia lembranças da última Copa como o boneco do tatu-bola Fuleco em tamanho gigante, uma grande foto da seleção alemã comemorando o título de 2014, posicionada atrás de duas redomas de vidro: uma com a bola da final entre a Alemanha e Argentina e a outra com 7 miniaturas da taça da Copa, simbolizando cada jogo disputado pela campeã. Podiam-se admirar também uma foto do Neymar durante a partida final que o Brasil ganhou da Espanha na Copa das Confederações (2013) ao lado das camisas oficiais de ambas equipes, a rede e a bola do gol nº 1000 de Pelé, uma estátua do Zico, o maior jogador da história do meu amado Flamengo, as marcas dos pés do artilheiro Roberto Dinamite, selecionadas de um Calçadão da Fama, um busto e grande foto do Garrincha, uma bela maquete do estádio e mais fotos de lances em jogos memoráveis e de craques da história do Maracanã. Entre as novidades para este ano, criaram o “Chute a Gol”, onde se simula virtualmente a cobrança de pênaltis, e a “Twist Cam”, que tira fotos em 360°. Estes foram alguns exemplos do que vi por lá, entretanto, não havia tanto material quanto eu esperava. O nosso guia falou sobre os itens num total de 15 minutos e nos deixou à vontade para conhecermos as dependências do estádio. Foi uma pena que neste ano alteraram o roteiro do tour e suprimiram o acesso à Tribuna de Honra, Cabines de Imprensa e a seção Maracanã Mais. Considero que foi uma grande  perda para o visitante… O Maracanã pode até não ser mais o maior estádio do mundo, contudo ainda é o de maior importância. Afinal, é o único no mundo a ter sido palco de duas finais de Copa do Mundo, sediado jogos de todas as grandes seleções e recebido um sem-número de craques nacionais e internacionais, de Pelé a Messi, além de astros da música. Seria ótimo que houvesse mais acesso ao estádio como um todo e mais ênfase na sua história. Na loja oficial, havia mais produtos dos clubes do Rio do que souvenirs do Maracanã, pois a única réplica à venda era muito cara e nada atraente na minha opinião. Sinceramente, o templo maior do futebol merecia mais…

No entanto, havia a parte compensatória. Amei ter passado pelos vestiários e ver uma série de armários com as camisas dos jogadores da última Copa. Havia, por exemplo, os uniformes com os nomes de Götze, o autor do gol que deu o título à Alemanha, Hummels, Neuer, David Luiz e até de Messi e Neymar, os dois mais disputados para os clicks das câmeras, chegando a se formar filas de torcedores esperando por sua vez de posar ao lado das camisas. Dali, passei direto pelo mesmo lugar por onde passam os times para entrar em campo. Realmente é uma sensação e tanto ficar junto ao gramado e contemplar toda aquela obra arquitetônica ao redor. Pude constatar a beleza que ficou o Maracanã, totalmente remodelado, reduzido na sua capacidade, porém mais acolhedor, com nova iluminação, três moderníssimos placares eletrônicos, cadeiras azuis e amarelas para os torcedores e vários acessos a passagens para outras áreas do estádio como os banheiros. Sem dúvida, o conforto hoje é muito maior do que na minha época de adolescente, em que cheguei a sentar na dura pedra das arquibancadas e mesmo levando almofadinha, saí de lá com o traseiro doendo… E como conseguir passar por uma multidão de homens irrequietos, vibrando, amontoados pelos degraus para ir a um banheiro feminino era missão quase impossível, nem me atrevia. Certamente, eu me perderia na volta. Mas, como fui poucas vezes assistir a jogos, não tive maiores problemas. Pior era para aqueles que ficavam na geral em volta do campo. Assistiam ao jogo em pé e, por vezes, ainda recebiam como “bônus” líquidos e objetos arremessados por outros torcedores. Não era mole não…  Constatei que o fim da geral e da arquibancada foram mesmo mudanças muito positivas. No dia da visita guiada, eu me empolguei: testei as cadeiras, sentei no banco de reservas, pisei na beira do gramado, passeei entre as instalações e fiquei a admirar todo o estádio. E ainda recordei-me de alguns momentos marcantes para mim.

Lembrei-me que a última vez que eu entrara no Maracanã foi um dia de Flamengo e Vasco, no início da década de 90, numa época em que as torcidas subiam as rampas juntas para se separarem depois. Sem brigas. Há mais de vinte anos isto era realidade! Pois é… Lá vibrei com a vitória sensacional do Flamengo. Aliás, sempre dei sorte contra o Vasco até assistindo pela televisão e as duas únicas vezes que prestigiei o clássico dos milhões ao vivo deu Flamengo. Uma vez foi 4 x 2 na era Zico e 2 x 1 no último jogo que fui. Uma felicidade! Desde aquela época, eu me comovia ao ver pela TV, em certos jogos, praticamente toda a circunferência do estádio lotada de torcedores com as cores e bandeiras do Flamengo. Uma grande emoção… Fiquei a imaginar também que agora o público poderia ter uma visibilidade melhor dos shows já que o estádio estava menor. E pensar que o Maracanã também foi palco para Frank Sinatra, Paul McCartney, Tina Turner, The Police, A-Ha, entre outros… Que espetáculos!

Voltando à visita, ainda interagi com alguns turistas, tirei fotos para uma família do Panamá e vi um grupo numeroso de belos rapazes, a maioria usando um mesmo uniforme. Pensei, “devem ser espanhóis”. A minha curiosidade então suplantou minha timidez e decidi perguntar a um deles de onde vinham. Para minha surpresa, ele respondeu que eram da Argentina. Nem imaginava que tantos jovens da nossa arquirrival no futebol se interessariam em participar de uma visita assim. Depois, fui conhecer a sala de imprensa onde os técnicos e jogadores dão suas entrevistas coletivas. Tirei fotos dos vestiários, passei para área dos lanches, vi mais e mais turistas chegarem e senti a aura positiva do Maracanã que atrai gente de todas as idades e culturas. E lá estava eu também, feliz de ver que a obra valeu a pena. Mas percebi que ainda há muito o que ser feito nas áreas do entorno, como por exemplo, a reestruturação do Estádio Célio de Barros. Mas isso já é outra história… O importante é que visitei mais um local histórico do Rio, agora revestido com que há de mais moderno. E quem passa na frente da Torre de Vidro do Maracanã, pode apreciar a série de palmeiras plantadas durante a reforma que deixa a paisagem ainda mais bonita à noite com o estádio iluminado.

Já estou a imaginar qual será o meu novo roteiro. Há tantas opções no Rio que é até difícil de elencar. Há parques, ilhas, museus, casas de show, áreas esportivas e uma série de sugestões que estou colocando como prioridades para passeios em 2016. Já vi que vou precisar de muito tempo para me organizar. Com certeza, não vou deixar de conferir os cenários tradicionais assim como as transformações urbanísticas e paisagísticas da cidade. Que o meu Rio de Janeiro me aguarde… sem prazo, sem hora e sem compromisso. Mas, sempre com muita disposição…


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