Passadas as celebrações natalinas e com a vinda do ano novo, fiquei a refletir sobre a importância dessas festividades e sobretudo do Espírito do Natal. E sinto que os efeitos do período já aparecem em mim. Saibam que o fim de ano de 2017, devido a problemas de saúde e a imprevistos, foi o que menos pude comparecer a festas com colegas de trabalho e de outros círculos de amizades depois de longo tempo. Em compensação, consegui participar das celebrações na minha igreja e na família e isto, com certeza, não foi à toa. Pois, assim, pude vivenciar o que mais alegam que está perdido na nossa atual sociedade: o Natal Cristão. Espero que essa experiência se estenda – e que mais eu a entenda – por todo o ano novo.
Logo no início de dezembro, tive uma gripe fortíssima que me acarretou febre, tosse intensa e quedas de pressão e com isso sensações de fraqueza, desânimo e solidão. Então, ainda no tempo do Advento, decidi ouvir muitas músicas para motivar-me e entrar no clima natalino e o primeiro CD escolhido foi o “Natal de Cavaquinho”. As gravações destacavam o instrumento que dá título à obra, lembrando o som das rodas de choro e de samba. O resultado é mais do que prazeroso e bastante carioca. Esse é um raro disco em que encontramos faixas como “O Homem de Nazaré”, “José” e “Jesus Alegria dos Homens” ao lado das tradicionais norte-americanas “Jingle Bells” e “White Christmas”. Ouvi também o CD “Natal Instrumental com Solos de Viola”, outra boa pedida para quem quer apreciar as músicas de Natal com um som bem brasileiro. Além destes, encantei-me mais uma vez com a “Harpa e a Cristandade” (Vols. 1 e 2) do paraguaio Luís Bordon e desfrutei do prazer de ouvir canções natalinas nas vozes dos meus queridos Michael Bublé, Frank Sinatra e Elvis Presley. Recebi também pelo whatsapp muitos vídeos musicais, e alguns emocionantes como o da cantora alemã Helene Fischer, dona de uma voz belíssima, cantando a “Ave Maria” de Schubert ou como o do Padre Fábio de Melo interpretando “Bom Natal”. Então, pude perceber a quantidade de belas composições já feitas que são tocadas em homenagem a esta data tão poderosa que é a do nascimento de Jesus. Não faltam músicas natalinas executadas por artistas das mais variadas nacionalidades e origens que exprimem beleza e mexem com nossos sentimentos. A sensibilidade da letra e da melodia de “Noite Feliz”, composta na Áustria do século XIX, por exemplo, emocionam corações no mundo inteiro até hoje. A música transportava-me do Rio de Janeiro tanto às paisagens de neve e chaminés do Hemisfério Norte quanto às terras da Judeia e Galileia. E eu me esquecia do tempo…
Além de ouvir essas e outras canções, participei também da festa de encerramento do ano com a turma de Crisma na minha paróquia, da tradicional reunião em família e das Missa do Galo e do Natal, que me deixaram muito feliz. O esmero e a dedicação dos sacerdotes, músicos, membros dos coral, equipe da liturgia e dos paroquianos, presentes em grande número, eram de deixar qualquer um enternecido. Voltei para casa com a certeza de que tinha, de fato, vivenciado um pouco da imensa beleza do Natal. E se houve algo que me chamou a atenção foi a presença da imagem do menino Jesus em tamanho natural próxima ao altar. Essa imagem colocada lá especialmente para a Missa do Galo maravilhava os olhos. E o presépio, talvez mais do que em anos anteriores, ganhou um maior significado para mim… Muitas vezes eu parei para pensar na profundidade do mistério em que Deus se fez menino e nasceu em uma manjedoura só para conhecermos de perto o Salvador. Uma alegria que não se restringiu apenas a Maria e José, mas aos pastores, aos três reis magos, aos judeus, aos gentios, enfim a toda a humanidade. Deste modo, pudemos conhecer o amor em pessoa, porque Jesus é Deus e Deus é amor.
Dias depois, passei o Reveillón discretamente em casa e, na primeira semana do ano, além de sair `as compras, fui à histórica Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no Centro do Rio, onde conheci o Museu do Negro e mais tarde fui ao Convento de Santo Antônio para visitar o Museu Sacro. Porém, cheguei na hora de ele fechar e para não perder a oportunidade fui ver ali mesmo a exposição internacional de presépios. Para minha surpresa, encontrei uma colega catequista acompanhada da mãe e que já estava de saída. Ainda assim, ela decidiu fazer a gentileza de me levar até à área da exposição. Apresentou-me ao simpaticíssimo Frei Alfredo, oriundo de Angola, e depois começamos a conversar sobre o desafio de ser catequista no Brasil do século XXI. Eu defendi que o mais importante é o catequista saber acolher o outro com amor para apresentar Jesus e, a partir daí, toda a transformação positiva é possível. Já a minha colega argumentou que o cristão tinha que demonstrar a sua convicção principalmente pelas atitudes. Então, fiquei sabendo o quanto ela se aplicava para tratar com compaixão os moradores de rua ao redor de sua igreja. Narrou as duas vezes em que ela comprou um lanche para um pedinte e, em retribuição, ele lhe falou: “Da próxima vez, não precisa me comprar mais nada não. Só me olha de novo assim: como gente”. E ela passou a falar com os olhos marejados… Contou também que umas crianças de rua com frequência aproximavam-se dela pedindo dinheiro e ela lhes respondia: “Eu não tenho dinheiro, mas tenho beijo e abraço para dar. Vocês querem?” No início estranharam, mas agora elas concordam de bom grado. E todos demonstram gratidão pelo carinho com que ela os trata.
E seus desafios não param por aí. Quando ela anunciou aos colegas que tinha passado no concurso de professora municipal, muitos lhe falaram “meus pêsames”. Depois o município lotou-a em uma área perigosíssima do Rio e ela passou a lidar constantemente com crianças e adolescentes em situação de delinquência, mas, nem por isso, sentiu sinais de esmorecimento. Ao contrário, ela nos disse que ao longo da vida ela terá dado aula para cerca de 200 turmas e se, em cada uma delas, ela tiver conseguido contribuir para fazer o bem e salvar apenas uma alma e ainda conseguir salvar a própria, ao final da carreira, ela terá contribuído para a salvação de 201 pessoas e tudo terá valido a pena… E relatou que já conseguiu influenciar alguns alunos que, por conseguinte, abandonaram o crime. Ela se emocionou e eu também. Provavelmente, a sua mãe e o frei sentiram o mesmo. Mais uma vez, voltamos ao básico da nossa fé. Pois, nós devemos apresentar e refletir Jesus que é o próprio amor. Ela fez questão que todos nós nos abraçássemos, tirou uma selfie e finalmente foi com sua mãe pegar o metrô. E aí eu vi o que é mesmo ser cristã. Tive a certeza de que havia encontrado uma fiel que faz tudo para viver os ensinamentos de Cristo. E com novo ânimo e o sentimento cristão revigorado, fui ver a exposição dos presépios. Ao final, despedi-me do frei e convenci-me de que visitar a igreja e o convento foi a decisão mais sábia que tomei naquele dia. E aí é que senti que o ano era de fato novo.
Depois de tudo o que vivenciei, estou determinada a cultivar a beleza do Natal dentro de mim independente da estação do ano. Será que consigo? É um grande desafio. Na verdade ser cristão é um desafio permanente. Não há como relaxar. Porém, se eu tiver sempre em mente os versículos bíblicos “Vigiai e Orai” (Mateus 26,41) e “O Senhor é meu pastor, nada me faltará” (Salmo 22, 1) estou certa de que afastarei qualquer sintoma de desânimo, seja provocado pela intolerância e perseguição aos cristãos ou turbulência política do Brasil e do mundo. Porque o Natal e também a Páscoa são motivos de felicidade neste ano, no próximo ano e em todos os anos. Sempre. Feliz 2018!
A EXPERIÊNCIA DO NATAL E A VINDA DO ANO NOVO
Comentários
6 respostas para “A EXPERIÊNCIA DO NATAL E A VINDA DO ANO NOVO”
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Concordo que realmente só com amor se pode vivênciar o verdadeiro cristianismo e contagiar outros.
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Querida Lígia,
Que bom encontrar a sua opinião aqui no meu site! O Amor é mesmo a chave de tudo. E Jesus é o próprio Amor. Acredito que Ele me inspirou mesmo no período de Natal e no Ano Novo, tanto que estou melhor e já escrevi este texto.
Muito obrigada por prestigiar sempre as minhas crônicas!Beijinhos,
Debbie.
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Debbie,mais um texto muito bem escrito! Você sempre dando a volta por cima e vendo o lado positivo de tudo. Muito interessante o Natal em ritmo tupiniquim, gostei!
Beijo enorme, e sucesso sempre!-
Querida Bia,
Muito obrigada pela sua primeira participação aqui no meu site e elogiando o meu novo texto! E agradeço principalmente por ser minha leitora assídua!
Quanto a estar sempre dando a volta por cima, sinceramente, não sei se consigo assim como você está dizendo, eu bem que queria… rsrs. Mas, eu estou sempre me esforçando para conseguir. O Natal em si já é uma data reanimadora por ser o nascimento de Jesus. É época de renovação espiritual e o encontro também com a colega no início do ano foi mesmo fruto da Providência Divina. Se você quiser curtir o Natal de forma bem brasileira, recomendo os CDs que eu citei.
Seja bem-vinda ao meu site!Beijinhos,
Debbie.
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Debora querida, mais uma vez uma cronica linda na forma e no conteúdo…Emocionei-me com o testemunho de vida de tua amiga! Como é difícil sermos assim, muitas vezes até nutrimos o sentimento de compaixão e solidariedade, mas passar da sensibilidade à ação…., aí é que mora a diferença em relação aqueles que, como tua amiga, arregaçam as mangas, vencem a inercia e o medo da reação da própria população vulneravel e realizam… E esse é sem duvida o genuíno espirito cristão do Natal, demonstrado pela maneira como Jesus feito homem veio ao mundo, numa manjedoura no meio da estrada, tão fragil, humilde e despojado. Apenas rico em amor ao proximo, especialmente os mais necessitados…E como esse valor espiritual e religioso do Natal ficou esquecido, engolido pelas poderosas forças de mercado, que transformam a data em presentança, comilança e gastança, alimentando o engenhoso sistema economico capitalista, que se arroga o poder de dar emprego à população e, portanto, quase nos sentimos obrigados a gastar para manter girando a maquina economica e a geração de empregos … Mas ainda que adiramos a esse sistema já que é nele que vivemos e sobrevivemos, nós e os outros, devemos manter vivos e pôr em efetiva prática os valores de solidariedade, partilha e generosidade, em favor dos mais pobres e necessitados, tanto de fome física quanto de fome emocional…Mas sair da inercia é realmente dificil, a propria familia, muitas vezes, não entenderia… Se vc avisar pra sua familia que vai passar algumas horas de sua noite de vespera ou do dia de Natal numa instituição de acolhimento de pessoas, ou visitando moradores de rua, ou animais abandonados, alguns entes queridos não compreenderão, sentir-se-ão trocados, pode haver ressentimento, ou conclusão de que vc não está bem…. Realmente, não é facil passar da palavra à ação, ms o teu belo texto induz à reflexão e ao exemplo que algumas pessoas dão e só isso já é um primeiro passo…. Adorei o belo texto ! Espero que tenhas te recuperado totalmente, pessoas como vc não podem ficar doentes, por favor !.A tua saborosa narrativa, sensivel, colorida e humana não pode parar ! Bjo gde amiga, fica com Deus e muita saúde, abrangendo toda familia
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Querida Margarida,
Que bom ler novamente os seus comentários, agora no meu site! Foi um grande prazer!
Fico contente que mais uma vez você gostou muito da minha crônica! Eu confesso que não sabia sobre o que escreveria no final do ano, porque me sentia mesmo fraca e melancólica. Graças a Deus, agora estou bem de saúde e com outra disposição. O próprio Natal foi me animando e senti-me compelida a escrever sobre a experiência depois que li as “Crônicas de Natal” do Austregésilo de Athayde. Resolvi incluir o Ano Novo sobretudo depois do encontro com a minha colega catequista. Acredito agora que tudo foi fruto do Espírito Santo. Como você leu, o exemplo dela foi muito forte para mim. Quero mesmo sempre viver o Natal cristão! É maravilhoso! Não só o Natal, mas essa data é mais do que inspiradora.
Quanto à prática cristã, devemos orar, ler a Bíblia e procurar inspiração na vivência de pessoas que honram ou honraram os valores cristãos como os santos. E, é claro, temos que pedir para Deus nos iluminar no dom e carisma com que fomos agraciados. Nem todo mundo tem dom de lidar com a população de rua ou marginalizada, mas podemos dar apoio a quem tem. No meu caso, procuro ensinar, catequizar os adultos. Há pessoas com outros dons, mas todos nós podemos viver de acordo com a vontade de Deus. Obrigada pelas belas palavras e sinta-se à vontade de comentar sempre!
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