Se há uma profissão que sempre mereceu uma atenção especial em todas as sociedades em que ela se desenvolveu é a de professor. Se levarmos em conta a História da Civilização Ocidental, constataremos como os educadores desde os tempos da Grécia e Roma Antiga, passando pela Era Medieval até a Contemporânea foram ganhando destaque na formação das novas gerações. E, mesmo em nosso país, onde o magistério já foi uma profissão altamente respeitada e tem sofrido uma desvalorização sistemática há décadas, pudemos sentir a alegria de ver a mais recente premiação de “Melhor Professor do Mundo” ganhar destaque na mídia brasileira.
Eu, por exemplo, fiquei muito animada quando soube que uma professora brasileira estava concorrendo e com chances de ganhar o 1º lugar. E para tudo ficar mais emocionante também se chamava Débora, portanto, minha xará! Assisti a algumas reportagens na TV sobre suas aulas e fiquei fascinada com a sua maneira criativa de ensinar. Pois, a professora de Informática Educativa Débora Garofalo deu por meio de seu “Projeto de Robótica com Sucata Promovendo a Sustentabilidade” uma nova motivação aos seus alunos para o estudo. Nós, telespectadores, tivemos a oportunidade de ver que os estudantes, todos de área de baixa renda de São Paulo, pegavam peças do lixo, principalmente eletrônicas, reciclavam-nas e transformavam-na em nova tecnologia. Que prazer ao ver as crianças criarem mini-robôs e outras peças móveis que faziam as aulas ficarem alegres, vibrantes, além de contribuir para a propagação da reciclagem no meio-ambiente. A aprendizagem ganhou um sentido renovado para os alunos e contribuiu para a melhoria de vida dos moradores da localidade. Logo, veio-me à cabeça: “Como eu gostaria de ter tido uma professora como esta!’ Quando eu era criança, gostava muito de ciências. Interessava-me por invenções, zoologia e astronomia devido às leituras que eu começava a fazer, como o “Manual do Prof. Pardal” e os volumes da Enciclopédia “O Saber em Cores”. Além dos livros, eu admirava as descobertas científicas que via pela televisão. Tinha uma grande curiosidade por esse universo, mas tudo isso eu só podia conhecer fora do ambiente escolar. Talvez, por isso, eu estava torcendo muito para Débora ganhar o Global Teacher Prize 2019.
O dia 24 de março chegou e a cerimônia de premiação cercada de glamour na suntuosa cidade de Dubai, nos Emirados Árabes, contou até com o galã australiano Hugh Jackman como apresentador. A TV brasileira destacou o evento nos noticiários. Claro, havia uma expectativa e torcida por Débora e ela… não ganhou. A honra do título de melhor professor do mundo foi conferida ao queniano Peter Tabichi, professor de ciências e frade franciscano, cuja história é tão bonita que de pronto me conquistou. Ele leciona na área rural, apenas para alunos muito pobres, mal-alimentados, que andam uma média de 7 km em estradas precárias para assistir às aulas, estudam em salas superlotadas com quase 80 alunos, dispõem de poucos recursos, entre eles um único computador em toda a escola. Como se não fosse pouco, Peter também enfrenta o desafio para educar alunos em uma sociedade em que a indisciplina, evasão escolar, drogas, violência, gravidez de adolescentes e outros tipos de problema fazem parte do cotidiano. Mesmo assim, o professor consegue verdadeiros milagres.
Como professora, coloco-me no lugar dele e sei perfeitamente que os desafios na área da educação até em condições mais favoráveis não são nada fáceis de enfrentar. Como católica, acredito em milagres. E, neste caso, a competência ímpar de Tabichi acrescida da inspiração divina resultaram numa transformação inimaginável na vida dos jovens e do próprio professor. Desde que começou a lecionar na Escola Secundária Keriko Mixed Day em 2016, ele assumiu a missão de proporcionar o máximo de qualidade com o mínimo disponível. E assim ele o fez. Para transformar o ensino, Peter decidiu logo adotar uma série de medidas, entre elas: doar 80% de seu salário para os alunos, pesquisar e levar conteúdo da Internet tirado de cybercafés à sala de aula, impulsionar o Clube de Ciências já existente na escola, além de ajudar os alunos com mais dificuldade de aprendizagem com aulas individuais no fim de semana e, assim, poder ter mais contato com suas famílias. Resultado? Os índices de indisciplina caíram drasticamente, as matrículas dobraram e as notas dos alunos subiram a tal nível que eles ficaram em 1º lugar no ranking de escolas públicas do Quênia. As meninas ficaram tão motivadas que deram um salto qualitativo em seu desempenho escolar. E esta contabilidade com saldo mais do que positivo estava longe de chegar ao fim. Os alunos de Peter conseguiram qualificar-se em competições escolares internacionais até dos Estados Unidos da América e conquistaram um prêmio da Sociedade Real de Química do Reino Unido. Tudo isso, conquistado em apenas três anos! Por fim, (?) Peter Tabichi ganhou 1 milhão de dólares da Varkey Foundation pelo título honroso de Melhor Professor do Mundo. A simpatia e a humildade demonstrada por Peter conquistaram ainda mais as pessoas, sobretudo quando ele afirmou que usaria o dinheiro do prêmio para investir mais na escola em que trabalha. Este professor, para mim, é tão exemplar que mereceria uma canção em sua homenagem como “To Sir With Love”.*
Peter Tabichi mostra um entusiasmo pela profissão que contagia a todos. Não é à toa que as famílias da região de Pwani Village estão cada vez mais interessadas em confiar seus filhos aos cuidados deste frade, que mais do que professor e irmão passou a ser um pouco pai de cada um deles. Os alunos, diante de tratamento tão especial, ganham novos propósitos tanto para estudar como para viver. Veem agora que suas limitações não impedem seu crescimento pessoal e/ou profissional. Inclusive, vinte e seis destes alunos já chegaram a passar para instituições de nível superior em 2018. Para Peter, um amante da Matemática e das Ciências, o que não faltam são números para se comemorar! Sua fé inabalável em Deus e seu amor ao próximo, com certeza, fizeram deste professor um dos homens mais felizes do mundo em 2019. Sobre isto, não tenho como saber pela mídia, mas acredito nesta premissa de coração.
Fiquei muito feliz em conhecer a história do Frei Peter Tabichi, sua dedicação ao magistério e o carinho pelos jovens de seu país. Foi também gratificante assistir a uma professora brasileira receber tamanho reconhecimento internacional. Ainda mais porque, segundo pesquisa realizada pelo Movimento Todos Pela Educação em julho de 2018, 49% dos professores em nosso país não recomendam aos seus alunos a seguir a carreira… Ver a paulista Débora Garofalo disputar o “Nobel da Educação” ao lado de Peter Tabichi serviu-me de estímulo a acreditar que sempre pode-se inovar e transformar de modo positivo a realidade das crianças e dos jovens, mesmo com todas as dificuldades pelas quais o Brasil tem atravessado. Vamos acreditar sim que podemos fazer muito mais do que imaginamos e isso depende do amor e dedicação que cada um oferecer às escolas e a valorização que der aos nossos educadores. Parabéns à Débora, ao vencedor Peter e a todos os professores e colaboradores que creem que, por meio da excelência na educação, a sociedade como um todo é que sai verdadeiramente premiada.
Obs.: “To Sir With Love” – Música gravada pela cantora britânica Lulu e tema de filme homônimo de 1967. No Brasil, ganhou o título de “Ao Mestre com Carinho”.
Artigo: Peter Tabichi O vencedor do Global Teacher Prize 2019. Site: Global Teacher Prize Vaiety Foundation https://www.globalteacherprize.org/pt/vencedores/peter-tabichi
Kenyan science teacher Peter Tabichi wins global prize – By Sean CoughlanBBC News family and education correspondent 24 March 2019. Site: https://www.bbc.com/news/business-47658803
Peter Tabichi. Site: Wikipedia. https://en.wikipedia.org/wiki/Peter_Tabichi
Débora Garofalo. Site da Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9bora_Garofalo
Professora da rede municipal de São Paulo é finalista do “Nobel da Educação”. Site da Nova Escola: https://novaescola.org.br/conteudo/15875/professora-da-rede-municipal-de-sao-paulo-e-finalista-do-nobel-da-educacao
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