Sempre gostei dos clássicos da literatura. E para quem me conhece, sabe muito bem como aprecio, em particular, os clássicos da literatura inglesa. E geralmente não resisto em prestigiá-los quando são transportados para as telas de cinema ou TV. Nesta quarta semana de abril no Rio, presenteada com dois feriados, além do fim de semana, resolvi assistir a dois filmes tirados da boa literatura, o primeiro da americana e o segundo da inglesa (é claro!) : “Adoráveis Mulheres” (1994) e “Grandes Esperanças” (2012). Só que “Adoráveis Mulheres” me causou de imediato uma profunda impressão. Senti-me tão satisfeita com o que vi que fui escrever imediatamente sobre o filme. Não só transformou minha visão da obra, como fez-me esquecer um pouco da minha predileção pelos clássicos ingleses. Portanto, vou concentrar este meu texto apenas no primeiro filme. Uma surpresa e tanto para mim nestes já tão inesperados dias de pandemia.
“Adoráveis Mulheres”, baseado no romance “Little Women” (1868) da norte-americana Louisa May Alcott, também traduzido no Brasil como “Muherzinhas”, conta a história de quatro irmãs de Concord, Massachusetts, que ficam a sós com a mãe enquanto o pai luta na guerra civil. Vivem, apesar das limitações financeiras e as incertezas da guerra, com muita solidariedade e alegria, ao mesmo tempo que crescem e sonham com romance, arte e prosperidade. Assisti a este filme pela primeira vez quando entrou em cartaz nos cinemas, e estava ansiosa por revê-lo para depois conferir a recente versão de 2019 que, no momento, está em pré-lançamento na TV por assinatura. Queria dar uma de crítica cinematográfica e comparar as duas produções. No entanto, ao rever a versão de 1994, senti um efeito muito diferente da primeira vez. De repente, não sei dizer se foi nostalgia ou não, mas como me encantei em ver novamente um filme de época – como era meu costume – com belos cenários de casas espaçosas, paisagens campestres e festas suntuosas. Projetei-me direto para aquele tempo em que as mulheres usavam longos vestidos, os homens pareciam todos elegantes e as carruagens passavam pelas ruas, tanto da pequena cidade de Concord ou da já agitada Nova York do século XIX. Comovi-me com a união das mulheres da família March, cada uma dotada de uma personalidade marcante em busca de seu próprio destino. A mãe Marmee é a matriarca que procura ganhar dinheiro para a família na ausência do marido e apoia as filhas em suas aspirações, inclusive na educação e carreira. A caçula Amy ama as artes e quer se dedicar à pintura. Meg, a mais velha, apresenta-se sempre ponderada e deseja encontrar um bom marido; Beth, de saúde mais frágil, parece feliz apenas em poder estar em família e tocar seu piano e Jo mostra ter a personalidade mais forte e projetos ambiciosos, pois não pensa em romances ou casamento. Tudo o que quer é ser uma escritora famosa e ir para a Europa, ou talvez, Nova York.
O filme retrata com delicadeza o sonho das moças, seus amores, dilemas, agruras, e conquistas. E, da cena inicial em que surge a cidade rural de Concord, coberta de neve, em clima natalino, ao som de bela música instrumental, até o final com direito à cena romântica ao cair da chuva, eu me envolvi com cada ação desenvolvida na trama. Emocionei-me com as situações e os rumos dos personagens e vi o quanto me fez bem um clássico final feliz. Há quanto tempo não via uma história assim! E como foi bom rever os artistas que estrelavam as telas na época, como Winona Ryder, que era uma das minhas prediletas, e mais Kirsten Dunst, Susan Sarandon, Christian Bale, Gabriel Byrne. Passaram-se mesmo 26 anos de lá para cá? Como? Lembro-me que, em 1994, saí do cinema com a impressão que tinha assistido a um filme bonitinho, mas um tanto leve demais. Agora, minha nova impressão veio dos mesmos olhos, mas já cansados de tanta malícia, tragédia e vidas voltadas para si e para a tecnologia, com tão pouco espaço para a ternura e a riqueza dos relacionamentos profundos. Senti-me como estivesse apreciando uma obra da Jane Austen, com diálogos refinados e personagens femininas cativantes. O filme é leve sim, mas apresenta mulheres decididas que não se intimidam em face das dificuldades financeiras ou limitações existentes às mulheres de sua época. Os personagens masculinos também são encantadores. Que belo filme de trama envolvente e convincentes interpretações! Jamais imaginei que, 26 anos depois de sua estreia, o filme “Adoráveis Mulheres” iria, finalmente, conquistar-me…
E, quanto à nova versão? Pesquisei na Internet sobre o filme de 2019. Li reportagens, assisti ao trailer e a um vídeo sobre a diferença do novo filme e o livro, e busquei ainda algumas informações sobre a nova versão em comparação a anteriores. Descobri que a diretora Greta Gerwig abandonou a narrativa linear que caracteriza a história e optou por mostrar os personagens já na fase mais amadurecida e retratar determinadas passagens em flashback. Ela destacou mais as personagens Amy e Jo, as duas artistas da família, e ainda por cima teve a audácia de modificar o final da Jo. Logo o final dela que eu tanto amei! Não sei se houve outras alterações, mas agora não quero mais nem saber. Desisti de ver o novo filme. Prefiro guardar na memória para sempre a versão apaixonante de “Adoráveis Mulheres” de 1994. E a partir desta minha nova percepção, ganhei a certeza que, ao menos neste caso, a última impressão é a que fica…
Fontes consultadas:
Filme:
“Adoráveis Mulheres” (Little Women). EUA (1994). Direção: Gillian Armstrong.
Vìdeos:
9 Biggest Little Women Differences Between The Movie And Book.
Little Women Trailer #1 (2019) | Movieclips Trailers
Textos de sites:
Site Wikipedia: Mulherzinhas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulherzinhas
5 Motivos Para Toda Feminista Curtir O Filme “Adoráveis Mulheres”’ – Site: Cine Set – outubro de 2015.
https://www.cineset.com.br/5-motivos-para-toda-feminista-curtir-o-filme-adoraveis-mulheres/
Why Greta Gerwig’s Little Women Movie Radically Changed the Book’s Ending – by Elena Nicolaou – 3 de Fevereiro de 2020. – The Oprah Magazine.
https://www.oprahmag.com/entertainment/a30186941/little-women-ending/
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