Que a rotina dos habitantes de quase todo o planeta mudou durante este período de pandemia já é de conhecimento geral, mas o que cada um tem feito para superar os desafios desta época é que tem sido a grande questão. No meu caso, em particular, a rotina mudou até demais. Eu saía praticamente todos os dias, para o trabalho, para a Igreja, para as lojas ou para os encontros com amigos. Agora, estou vivendo semelhante àquela gravura que anda circulando pelas redes sociais: “nunca me imaginei vivendo como a família Jetson”. Passei de uma hora para outra a fazer tele-trabalho ou “home office”, participar de videoconferências, assistir a aulas e palestras online, comunicar-me com as pessoas quase o dia todo por mensagens virtuais, e até inscrever-me em mais canais do You Tube e redes sociais na Internet como o Instagram só para poder participar de transmissões ao vivo, as tão populares “Lives”. Em resumo, agora tenho a impressão que o mundo real transferiu-se para a tela do computador ou do celular. No entanto, a minha rotina mudou muito positivamente em termos de ter tempo para fazer atividades que há muito eu queria. Tribulação e compensação. É sobre tudo isso que quero compartilhar um pouco aqui com vocês, leitores.
Vou começar pelo fator tempo, pois neste quesito passei a aproveitar ao máximo. Primeiro, não preciso mais de despertador; desperto de acordo com meu relógio biológico, ou seja, na hora que eu quero… E sempre na certeza que vou começar meu trabalho na hora. Acordo todos os dias em torno de 7:30h, às vezes, um pouco mais; nada de muito extravagante. Também não preciso mais me preocupar em me arrumar e correr para pegar o trem e o metrô, nem enfrentar problemas na volta. Assim, posso fazer outras atividades antes impensadas. Uma das mudanças: após tomar o café da manhã, vou para varanda tomar um ar, pegar um pouco de sol e assim aproveitar os benefícios da vitamina D, contemplar a vista da minha Igreja e assistir ao movimento da vizinhança. Agora faço minhas leituras bíblicas diariamente. Aliás, pela primeira vez estou conseguindo fazer a Leitura Orante da Bíblia. Uma bênção! Leio e estudo o que posso até a hora de começar o expediente e mãos à obra. Além disso tudo, não é que eu estou estudando italiano e fazendo até alguns exercícios físicos? Também caminho depois do almoço, mesmo sendo dentro dos limites do corredor do meu apartamento… Confesso também que não sou muito assídua nesta parte, pois depende do meu volume de trabalho e também em termos de botar o corpo para se exercitar, a minha preguiça, muitas vezes fala mais alto. Estou procurando redisciplinar-me. Embora eu esteja me exercitando abaixo da média, qualquer esforço já é um avanço, considerando a minha pessoa…
Já na vida doméstica, tenho procurado dedicar-me mais à casa e à minha família, sem me esquecer de dar atenção aos amigos. Inclusive, passei a ligar mais para eles por telefone. Estou também assistindo a muitos vídeos do meu interesse, às emissoras católicas, orando o Santo Terço e voltando a ouvir mais música. Então, está tudo sendo fácil para mim? Estou encarando o confinamento social “numa boa”? Certamente, eu não estaria imune às dificuldades do novo tempo e os desafios não param de aparecer…
O maior problema é ter que trabalhar com o meu computador que está com defeito no disco rígido. Às vezes estou no meio de uma tarefa quando ele simplesmente desliga e aí tenho que religar o computador. Quando ligo, a tela na maioria das vezes se desloca para a direita. Vejam só! Então, tenho que reajustar o vídeo, uma ou duas vezes e, mesmo assim, nem sempre a coisa funciona. Resta-me reiniciar o computador. E até pouquíssimo tempo, outro motivo de desestabilização de minhas emoções era o celular. Todos os dias, eu tinha que enfrentar as agruras de ter que lidar com um telefone fora de linha cuja capacidade de armazenamento era de somente 8 GB (!) Será que alguém ainda usa um assim? Muitas vezes, logo ao ligá-lo, eu me deparava com a seguinte mensagem: “armazenamento quase esgotado”. Começava o suplício de jogar fora todos os vídeos, áudios, inúmeras postagens e imagens para eu poder trabalhar. Como faço parte de vários grupos no whatsapp, inclusive profissionais, imaginem a trabalheira que era fazer esta seleção diária. Quando o celular estava OK, recebia postagens ao longo do dia, ele ficava mais lento e no dia seguinte o suplício recomeçava. Era uma provação contínua para a minha paciência…
Instalar um aplicativo para videoconferência no mês passado foi um capítulo à parte destas provações. Por mais que eu eliminasse arquivos, o armazenamento nunca era suficiente. Com a ajuda do meu irmão, desinstalei vários aplicativos para conseguir. Depois tentei baixar um aplicativo específico, o “Zoom”. Nova série de eliminações. Deixei meu celular só com o básico do básico, mesmo assim o esforço foi em vão. Há duas semanas, quase entrei em desespero, pois ao ligar o telefone, ele foi avisando que a memória estava esgotada. Mal conseguia receber uma mensagem. Por mais que fizesse limpeza, não funcionava. Havia ainda mais por fazer. Fazer mais o quê???? Ainda por cima, era dia de reunião no meu trabalho, outro fato desesperador… Por fim, joguei fora o aplicativo de limpeza/antivírus e, finalmente, consegui usar o celular. Entrei na videoconferência a tempo e quando estava no meio da reunião, a conexão caiu… E então? Perdi o resto da reunião. Desculpei-me pelo contratempo por mensagem e quando terminou o expediente, recorri novamente ao socorro do meu irmão para resolver estas intempéries da informática. Ele fez uma superlimpeza de dados internos, baixei novo aplicativo de limpeza e, finalmente, deu certo! Cheguei à conclusão, que tinha duas “carroças tecnológicas” em casa… Mas, agora com a flexibilização das medidas restritivas de circulação pela cidade, saí correndo para comprar um smartphone moderno e compatível com as minhas economias. Pude com toda a alegria abandonar o uso daquele meu já obsoletíssimo celular .
Em outro campo, as notícias, tanto da pandemia quanto da política, vêm me causando certa tristeza e irritação, salvo quando as emissoras mostram a onda de solidariedade que também está em curso no Brasil. As notícias do planeta em geral não têm sido motivadoras, por isso, já diminuí significativamente o meu tempo dedicado ao noticiário. Não está sendo fácil enfrentar tudo isso sem arranhões emocionais. Inclusive, porque tenho vários conhecidos que já pegaram o coronavírus e, embora muitos já se recuperaram, há ainda quem esteja no hospital e tenho conhecidos que já perderam amigos e familiares.
De qualquer modo, não desisto das orações e de manter a esperança na certeza de que Deus sabe muito mais do que eu e há todos os dias muita gente se curando, fazendo gestos de bondade, orando por outras pessoas e engajadas na busca de soluções, seja para o fim da pandemia, seja para a melhoria da sua vida e dos demais. E assim, vou me reanimando… E, enquanto vamos nos adaptando ao “novo normal”, vou comemorando já poder ver o rosto de mais amigos por meio do “Zoom” e também, em breve, com a reabertura da Igreja e demais estabelecimentos, poder rever outros amigos ao vivo, ainda que seja a cerca de dois metros de distância, com álcool gel nas mãos e usando uma simpática máscara…
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