Copacabana… Só de me lembrar desse nome já me faz sentir bem. O bairro parece eternizado na memória popular principalmente pela praia, que foi tão homenageada pela voz de Dick Farney em “Copacabana” (1946), que celebrava a “Princesinha do Mar”. Praia onde pode-se apreciar o Pão de Açúcar, um dos símbolos do Rio de Janeiro, e usufruir de festas inesquecíveis como a do Réveillon com seu deslumbrante show de fogos de artifícios, prestigiado por turistas do Brasil e do mundo inteiro. Mas, Copacabana, para mim, vai muito mais além. Ela guarda a lembrança de muitas passagens marcantes da minha vida. São tantos momentos bons que fica até difícil fazer uma seleção. De qualquer modo, além de ser um desafio, é o tipo de atividade que só me dá vontade de começar a escrever sem ideia de quando vou parar…
Meu amor por Copacabana começou cedo. Lembro que na minha infância foi a primeira praia que conheci. Se fui a outra antes não sei, mas a de Copacabana não me esqueci. Lembro-me também das primeiras voltas pela Zona Sul na minha adolescência, dos primeiros passeios no famoso calçadão em preto-e-branco, dos primeiros beijos, do primeiro namoradinho e da alegria de desfrutar das tardes que eram sinônimos de novidade e bem-estar.
Em algumas ocasiões eu saía com uma colega e passeávamos tanto na Av. Atlântica como também um pouco a esmo explorando as ruas adjacentes. Na Rua Barão de Ipanema, por exemplo, conheci a Igreja de São Paulo Apóstolo e fiquei deslumbrada diante de tanta beleza. Impressionei-me com a nave ricamente decorada com pinturas e imagens de muitos dos principais santos da fé católica. Junto ao altar, por exemplo, pude contemplar a grande pintura de São Paulo orando com o céu aberto onde avistamos Jesus triunfante com o Espírito Santo, rodeado de anjos e santos, entre eles religiosos, religiosas e papas. Tudo representado com figuras nítidas, cores vivas e profundidade espiritual. Esta tornou-se uma das minhas igrejas prediletas até hoje. Pertinho dali, na Rua Barata Ribeiro, descobri a hoje extinta loja de discos Modern Sound com vasto cardápio de LPs, fitas K-7, VHS e depois CDs, Video Lasers e DVDs, importados e nacionais. Lá eu me deleitava com a fartura de produtos de meus artistas favoritos como a Olivia Newton-John, The Beatles, Frank Sinatra e nomes da música instrumental brasileira. Havia do lado a concorrente Billboard que também contava com um expressivo catálogo musical e rivalizava com a loja vizinha. Esta última eu apreciava menos, mesmo assim, não deixava de entrar. Por vezes eu ficava bem mais de uma hora entre as lojas, sobretudo na Modern Sound olhando e revirando o material. Na maioria das vezes, eu ficava mais tempo olhando do que comprando, mas sempre saía de lá com a vontade de voltar outra vez.
Anos mais tarde, mesmo que variasse a companhia do passeio, Copacabana continuava a ser um cenário de destaque para as minhas experiências. Uma das que já descrevi em crônicas anteriores foi a da Jornada Mundial da Juventude em 2013 em que tive oportunidade de interagir com católicos de vários estados do Brasil e de outros países. Conversei com muitos deles, tantos brasileiros como estrangeiros. Na praia, falei com jovens da Grã-Bretanha, Oceania, Austrália e Mônaco e também fotografei argentinos, asiáticos, chilenos e por aí vai… Consegui, ainda, ver o Papa Francisco, no início de seu Pontificado, bem perto de mim.
Um ano depois, na Copa do Mundo de Futebol de 2014, passeei na transformada “La playa de Copacabana”, assim chamada na época devido à quantidade de argentinos que desfilavam pelo calçadão com suas camisas e bandeiras e que chegavam ao bairro em número desproporcional ao de torcedores de outras nacionalidades. Só para terem uma ideia, vi até cachorro no calçadão uniformizado de seleção argentina… Assisti a uma boa parte de Costa Rica x Holanda em telão de LED de 150m² montado na areia – a FIFA Fan fest – e tive a satisfação de conversar e tirar fotos com turistas da Alemanha, a grande ganhadora da Copa. A loja oficial da Copa do Mundo no Rio também foi montada nas areias de “Copa” que passou a ser point para os curiosos, turistas e amantes do esporte.
O Rio também sediou as Olimpíadas em 2016 e Copacabana não ficaria de fora da badalação. Uma vez de que não me esqueço foi quando eu passeava com minha irmã de coração pela praia e havia diversos camelôs vendendo camisas com os logotipos do evento ao longo do calçadão. Eu passei por vários até que passei por um que vendia T-shirts cor-de-rosa, além de outras cores. Parei e perguntei ao vendedor se eu podia vestir a camisa rosa por cima da minha blusa e, para meu contentamento, ele disse que sim. Depois provei uma branca também. Mal acabei de vestir as camisas, pararam umas moças ao meu lado e pediram ao camelô para vestir umas peças também. Ele concordou e a aí a coisa virou uma febre. Logo apareceram outras moças de bikini e mais uma família; quase todos queriam vestir as blusas e comprá-las. Só ao meu redor, juntaram-se umas oitos pessoas que adquiriram peças de várias cores e até a minha amiga que, a princípio, não queria comprar nada, não resistiu e comprou umas também. Eu fui embora e o vendedor não parava de vender. E o interessante é que os outros camelôs tinham praticamente material idêntico ao daquele e, no entanto, estavam a ver navios… Eu só escolhi parar naquele vendedor porque foi o único que vi com blusas cor-de-rosa . Mas, o que eu não esperava mesmo é que a minha decisão de usar o calçadão da praia como provador de roupas fosse inspirar tanta gente. E nem foi lá grandes ideias. Mesmo assim, não é que acabei, pelo menos naquele dia, lançando moda em plena Praia de Copacabana? Vá se entender uma coisa dessas…
Entre tantos outros eventos que não podiam faltar no meu currículo foram as viradas de ano na praia. E um bem emblemático em que estive presente foi o Réveillon com a queima de fogos mais longa da história. Foram 25 minutos de profusão de brilhos, cores e encantamento. Fiquei bem próxima às águas e vi as embarcações soltarem toneladas de fogos de artifícios a colorir o céu em tons verdes, lilás, vermelhos, prateados, dourados, entre outros, formando desenhos com tamanho efeito cênico que sugeriam cair sobre a multidão que acompanhava, extasiada, o espetáculo. No final, houve a grande surpresa: a figura de um Cristo Redentor iluminado dentro de um barquinho no mesmo estilo em meio as ondas… Um show impressionante que podia ser visto ao longo de toda a praia. Foi um tempo em que ainda podíamos contemplar a famosa cascata de fogos do Hotel Méridien, – atualmente Hotel Hilton Rio de Janeiro Copacabana -, que saía da cobertura, cobria todo o edifício e iluminava seus arredores. Tudo feito com muita classe e esmero. E, para quem queria curtir mais do que o show de luzes, havia artistas famosos da música tocando e cantando samba, pop-rock, MPB e vários gêneros musicais para animar as plateias ao longo da orla. Só alegria. Um outro Réveillon de que gostei muito foi o de 2019/2020 quando fui acompanhada de várias amigas e conhecidas de São Paulo e pudemos juntas curtir bastante aquele momento, pouco tempo antes de surgir a pandemia e botar o mundo em semi-confinamento.
Em ocasiões mais raras, cheguei a dançar atrás de banda de Carnaval com amigas na Rua Bolívar, ir a uma festa no Forte de Copacabana, participar de curso de hipnose no Hotel Golden Tulip e assistir a shows musicais gratuitos na areia. E as lembranças não param por aí. Houve os momentos mais cotidianos, como as proveitosas andanças no comércio com a minha mãe, e as caminhadas no calçadão, sobretudo com a minha amiga/irmã, onde eu jogava conversa fora, contemplava a paisagem humana, apreciava a vista de cartão-postal e os efeitos das ondas do mar… Houve também os passeios com namorado, sessões de cinema no saudoso Roxy, almoços deliciosos no Don Camillo, chopps à beira-mar, compras maravilhosas e bom-papo no anual Bazar da Sociedade Providência que havia no Hotel Copacabana Palace. Quantas recordações!
Há quem considere o bairro agora decadente sem o glamour de outrora… Lembram mais do aumento dos assaltos, da população de rua e dos problemas estruturais, além das manifestações políticas. Eu prefiro lembrar-me que quase sempre que vou à Copacabana, vou e volto feliz. Prefiro guardar na memória estes e outros momentos e aguardar os que, com a Graça a Deus, ainda virão. Por enquanto, fico a relembrar. Volto a ficar com os versos memoráveis cantados por Dick Farney que dizem assim: “…só a ti, Copacabana, eu hei de amar…”*
*Obs.: “Copacabana” (letra: Alberto Ribeiro; música: João de Barro; voz: Dick Farney).
Confira fotos dos eventos: JMJ 2013 e Copa do Mundo de 2014 citados no texto:
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